ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
GABRIELA SÁ PESSOA
DE SÃO PAULO
Num jatinho com seu nome grafado, o cearense de 27 anos cruza o país para apresentar seu forró em aniversário de empreiteiro no Recife, show em ginásio no interior do Piauí, estádio lotado por 50 mil em Brasília (quase um dia do festival Lollapalooza) e casa de show em SP onde também tocam Roberto Carlos e Morrissey.
Safadão tem 200 pessoas na equipe, 2,6 milhões de seguidores no Instagram, maratona de até 25 shows por mês e seis compositores para o que chama de “minha usina de hits”.
Aparentado de sertanejos universitários que ostentam a vida de beber “champa” a bordo de Audis TT e Camaros amarelos, seu forró “Camarote” ganhou clipe com 35 milhões de visualizações no YouTube.
Há ainda “Vem pro meu Lounge” (“o after é lá em casa, com champanhe”) e “Gelo na Balada”, já cantado pelos Cavaleiros do Forró: “Sabe aquele gelo que você me deu?/ Tô tomando ele na balada com uísque e Red Bull”.
Também tomou um banho de loja. Deu tchau às camisas ultracoloridas e estampadas que vestia no começo da carreira (virou adepto de cortes mais justos, em preto e branco). Prendeu num coque estilo samurai o cabelão escorrido que sempre foi sua marca registrada. As pulseiras de miçanga foram embora junto com os vestígios de anos 1990. “Hoje vejo as imagens… ‘Carái’, me vestia mal pra porra.”
Ele já comprou sua Ferrari vermelha ganhando cachês que, segundo a Folha apurou, podem chegar a R$ 500 mil (páreo a uma Ivete Sangalo).
Na sala Vip Club do hotel onde se hospedou na semana passada, o Maksoud Plaza, nos Jardins da capital paulista, não revela quantias. Só diz que tem “valor alto para subir ao palco” e fazer a noite das autodenominadas “safadetes”, reunidas em fã-clubes como o Cabaré do Safadão.
Não faz muito tempo que amigos faziam troça. Sucesso nacional? Vai sonhando, vai. “As pessoas falavam: ‘Acha que um dia Faustão vai anunciar Wesley Safadão?'”, lembra. Hoje, o apresentador da Globo tenta trazê-lo de volta a seu programa, após algumas participações. O cantor ainda não achou espaço na agenda.
Prefere lidar com sua plateia em noites como o festival “Garota White”, criação sua.
“O Wesley Safadão não está na TV”, diz sobre si mesmo. Onde, então? Aonde ele vai, oito carros, alguns do modelo Fiat Doblò, chegam antes, distribuindo CDs de divulgação –250 mil por mês.
Mesmo contratado pela gravadora Som Livre, o forrozeiro não abre mão dessa técnica de formação de público, muito comum Brasil adentro.
Safadão era uma das grandes atrações do festival Villa Mix em Goiânia, no dia 6/9. Antes do show, dez promoters com bonés pretos (as iniciais “WS” bordadas em dourado) distribuíam discos com seus sucessos a quem chegasse lá.
VAI, SAFADÃO
A vida nem sempre foi uma balada para este filho de pai caminhoneiro e mãe que trabalhava reciclando sucata. Isso até ela, Maria Valmira, embarcar numa ideia do irmão mecânico. Sem qualquer experiência na área, a família lançou a banda de forró Garota Safada, com uns R$ 2.000 emprestados por clientes da sucata da dona Bill (como Maria é conhecida), atual vice-prefeita da pequena Aracoiaba (CE).
Até os 15 anos, ele era Wesley Oliveira da Silva, o garoto que sonhava em ser jogador de futebol. Mas entrou no Garota Safada após uma banda rival surrupiar o vocalista.
Como o amigo sertanejo Cristiano Araújo, morto aos 29, Safadão é um daqueles artistas que meio Brasil ama, sem que uma dita elite cultural tenha ideia de quem se trata. Wesley, contudo, somou a seus fãs um novo tipo de público.
Em outras palavras, é rei em “quebrar a internet”. Protagoniza “memes” (piadas populares na rede) como a lista “25 motivos para você respeitar o Safadão” –que atribui a ele a frase apócrifa “não preciso da simpatia de quem não simpatiza comigo: uma boa dose de respeito e alguns quilômetros de distância já está bom”.
Outro viral nonsense publicado no site “Buzzfeed”: a fotomontagem “como seriam as princesas da Disney se tivessem o rosto do Safadão”. “Acho legal, mas às vezes é chato. Meu rosto de bolacha não combina [com o corpo da Pequena Sereia e outras].” Na vida real, posou de príncipe ao lado da mulher Thyane e dos filhos Yhudy e Ysis.
Os “memes” nasceram quando os jornalistas Manuela Barem e Raphael Evangelista, da equipe do “Buzzfeed”, olharam fotos antigas dele e se perguntaram: “Aquele cabelo é real?”. “Com o tempo, descobrimos que suas músicas são muito divertidas e que ele é um cara legal. A gente sente que Wesley nos representa”, dizem por e-mail.
Safadão recebe algumas dessas brincadeiras no grupo de WhatsApp “100% Rádio”, onde troca mensagens com ídolos populares como Sorocaba e Marrone. Acha, aliás, bobagem rotular o estilo deles como joio e MPB, como trigo.
“Wesley Safadão não é um qualquer. Minha música é popular e é brasileira”, diz ele, que elege “dar a volta por cima” como mote “unissex” de seu som. “É música de cachaça, para descer até o chão.”
A meta é chegar “bem lá embaixo, no Sul”, onde “a cultura é rigorosa”, afirma. “Vão ter que me engolir, cearense cabeça grande.” Seu grito de guerra é “vai, Safadão”.