Ministério Público Eleitoral (MPE) deu um prazo até o dia 6 de maio para o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), responder sobre a nomeação de 36 capelães na segurança pública do estado. De acordo com a denúncia feita ao MPE, o governador tem nomeado capelães sem concurso público para obter apoio político-religioso para as eleições.
A denúncia foi motivada pelo número de as nomeações feitas pelo Governo do Estado para os cargos de capelão da Polícia Militar, Bombeiros, Polícia Civil e Sistema Penitenciário. A acusação é de que Flávio Dino estaria abusando de abuso do poder religioso com a captura de diversos líderes religiosos para participar de empreitada política religiosa eleitoral.
O capelão é um tipo de conselheiro espiritual dos agentes da segurança pública. O Maranhão tem 50 capelães, sendo que 36 foram criados sem concurso público no ano passado. Em alguns casos os salários passam dos 20 mil reais por mês.
O documento redigido pelo Partido Republicano Nacional (PRN) diz que o ápice da inconstitucionalidade e ilegalidade é que os cargos públicos só podem ser preenchidos por concurso público, mas estariam sendo escolhidos pelo interesse do governador do estado. Ele estaria fazendo nomeações para qualquer cargo e com remuneração por interesses eleitorais.
Um dos casos é o do coronel Misael Mendes da Rocha, que entrou na Polícia Militar em 2009, como major. Ele foi promovido em 2015 a tenente coronel e, no ano passado, chegou ao posto de coronel capelão com um salário de R$ 21.438 reais, segundo a denúncia. Ainda segundo o documento, ele é filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – que faz parte da base de apoio do governo – e pelo menos outros seis capelães teriam filiação partidária.
Em um vídeo de dezembro do ano passado, o governador Flávio Dino aparece em um discurso na Assembleia de Deus da cidade de Chapadinha destacando a nomeação de pastores da igreja como capelães.
“Quero cumprimentar aqui todos os capelães da Polícia Militar, não só da denominação Assembleia de Deus, mas especialmente da Assembleia de Deus, que são muitos. E quero saudar a pessoa do coronel Misael, que vem a ser o primeiro coronel capelão da história da Polícia Militar”, disse Flávio Dino no discurso.
Outra nomeação que teve destaque na denúncia foi do pastor Felipe Madureira Silva como capelão religioso da Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP). Ele é filho do pastor do Rio de Janeiro, Marcos Pereira, que é filiado ao PCdob, segundo o relatório encaminhado à procuradoria.
Críticas
Policiais de carreira criticaram a forma como as nomeações vem acontecendo. O presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Elton Neves, diz que, além de serem irregulares, há questões mais urgentes a serem tratadas e que não tem o interesse do governo.
“É tudo muito obscuro. É tudo muito incerto. Apenas se criam os cargos sem ouvir qualquer opinião. É importante o capelão? Não digo que não seja, mas em critério de prioridade talvez fosse importante fazer isso depois de resolver outros problemas mais urgentes, como a falta de policial no estado de modo geral, nas delegacias e unidades policiais”, afirmou.
Já Ideraldo Gomes, presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, disse que a categoria precisa dos serviços que normalmente são realizados pelos capelões.
A Ordem dos Pastores Batistas também se manifestou sobre as nomeações. O presidente Elizeu Fernandes defende a nomeação por concurso público.
“A nomeação de capelães ou de outro setor da vida pública, o acesso há de ser por concurso. O Ministério Público deve estar atento a essas práticas que vem trazendo prejuízos a imagem dos evangélicos, porque se entende como uma mistura das práticas religiosas com a política”, contou Elizeu.
Por telefone, o pastor Daniel Matos, uma das lideranças da igreja Assembleia de Deus, informou que a igreja não iria dar nenhuma posição sobre o assunto. Ninguém do PTB foi encontrado para comentar o caso e o pastor Felipe Madureira não retornou os contatos.
O Governo do Maranhão disse que o número de cargos criados de capelão da Polícia Militar manteve-se na média das gestões anteriores, totalizando 6 novas vagas. Também informaram que, na Polícia Civil, no Corpo de Bombeiros e no sistema prisional, a criação de cargos de capelania, conforme previsto na constituição federal, atendeu igualmente à necessidade de oferta da assistência a esses servidores, que tiveram seus quadros ampliados na atual gestão em 50%. O Governo também disse que as mudanças de patente efetivadas seguiram, como de praxe, as regras da corporação.