Salatiel Soares Correia ,Especial para Opinião Pública
O Brasil começa a presenciar a intensificação do declínio da mais longeva oligarquia da política brasileira: a dos Sarney. Na verdade, esse declínio de fato iniciou no momento em que o então presidente José Sarney deixou a presidência da República e candidatou-se a senador não pelo seu estado natal em que fora governador, mas sim pelo Amapá.
De lá para cá, o feudo maranhense sentiu o primeiro abalo com a vitória de um ferrenho adversário para o governo do estado: o médico Jackson Lago, de saudosa memória. É bem verdade que os Sarney conseguiram reverter a situação com o ganho de causa que tiveram na justiça e que resultou na volta da herdeira política do clã ao poder, Roseana Sarney.
Roseana Sarney assumiu o governo sob o fogo cruzado de uma oposição ferrenha que não lhe deu trégua em momento algum. Destacavam-se como líderes dessa oposição o ex-governador e ex-ministro José Reinaldo Tavares, o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça Edson Vidigal, e o jornal Pequeno. Este um ferrenho opositor da família Sarney há mais de 40 anos.
Somou-se a essa pertinaz oposição o elevado grau de violência, com dezenas de mortos, naquele que é considerado o mais perigoso presídio do país: o de Pedrinhas. Não podem passar também despercebidos os péssimos indicadores sociais do estado (analfabetismo, desemprego e saúde precária) que muito contribuíram para que o Maranhão se tornasse o que hoje é: a unidade federativa que mais exporta gente. Pasmem: cerca de um milhão de maranhenses migraram para outras regiões em busca de uma vida melhor.
Certamente, todos esses fatores foram decisivos para que a terra do grande poeta Ferreira Gullar optasse por uma nova opção política representada pelo primeiro governador eleito na história do Brasil a pertencer ao partido comunista. Trata-se do ex-juiz e ex-deputado federal Flávio Dino.
Governador de fato e de direito, Flávio Dino vem emitindo os primeiros sinais de que o Maranhão seguirá numa outra direção. Primeiramente, procurou dar um perfil técnico às principais secretarias. No seu discurso de posse, anunciou ações imediatas no sentido de elevar o Índice de Desenvolvimento Humano dos trinta municípios mais pobres do estado. Enfatizou que, ao findar seu governo, não existirá mais nenhuma escola de palha no Maranhão. E, logo nos primeiros dias, vem dando sinais de que no seu governo inexistirão mordomias. Para dar o exemplo, mandou cancelar a licitação suntuosa de camarões, lagostas, vinho e outras iguarias feitas pelo governo que lhe antecedeu.
Outra medida do recém-empossado governador Flávio Dino centra-se na proibição de algo muito comum na terra do poeta Gonçalves Dias: dar nome de pessoas vivas a prédios e monumentos. Não é segredo para ninguém que em maternidades, pontes, praças, no Tribunal de Contas e até no Tribunal de Justiça consta um ilustre sobrenome: o dos Sarneys.
É o fim da oligarquia Sarney? É cedo, muito cedo para afirmar isso. Do Jornal Pequeno vem a informação: no Tribunal de Contas, cinco dos sete conselheiros foram nomeados pelos Sarneys, no Tribunal de Justiça, a futura corregedora, Nelma, é cunhada do ex-presidente. Vale ainda lembrar que o mais poderoso sistema de comunicação do estado ? o Mirante ? é de propriedade da família Sarney. Flávio Dino é o governador, mas é ingênuo pensar que ele terá vida fácil. A oposição tem força. Prefiro, assim, encerrar este artigo com as sábias palavras do ilustre senador Pedro Simon, que acaba de deixar o senado após 60 anos de honrada vida pública: “Sarney é um força da natureza, nasceu para estar no poder. Sempre vai estar, mesmo fora do Senado. Talvez, somente Dom Pedro II tenha ficado mais tempo no poder do que ele.”.
(Salatiel Soares Correia é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Planejamento. É autor, entre outras obras, de A Energia na Região do Agronegócio)