Uma pequena casa com a entrada em elevado de escadas de cimento, com apenas dois cômodos, sem pintura, cuja cama de dormir fica separada da sala por uma cortina de plástico, no bairro da Vila Luisão, abriga um mito da luta-livre do Brasil, Casimiro do Nascimento Martins, o Rei Zulu, que encantou o público nas décadas de 1970, 1980 e 1980.
Deixou o trono sem a majestade de outrora e hoje vive se acomoda numa cadeira de rodas, por conta de um acidente doméstico que lhe fraturou o fêmur, no começo do mês de outubro. Anos antes, enfrentou um AVC que não lhe deixou sequelas.
Aos 72 anos, ainda exibe uma musculatura de fazer inveja, com 115 quilos distribuídos em 1.88 de altura, o que, quando em pé lhe dá a postura respeitável de um, gigante do ringue, que, ao longo da carreira, abateu centenas de adversários. Os dentes alvos e completos servem de adorno para um sorriso largo e inocente.
A lucidez é impressionante e o raciocínio muito rápido. Numa rápida com conversa com os jornalistas Djalma Rodrigues, Nelson Nogueira e Walkir Marinho, fala da infância em Bequimão, da vinda da família para São Luis, do Exército, onde serviu ao longo der 3 anos e o início da carreira.
“Comeceu bem cedo, logo quando deixou o Exército. O porte físico impressionava e comecei a luta livre, para mim a melhor, porque não precisa de luvas e nenhum aparato”, destaca.
Sobre a situação financeira, é bem enfático:
-Vocês sabem como é família do interior, né? Todo mundo é unido. Nossa família é grande, somos 18 irmãos. Quando comecei a ganhar dinheiro, tive de ajudar irmãos, sobrinho, pai e mãe. Se tivesse guardado o que ganhei, estaria rico, mas isso não aconteceu”, assinala.
Sempre sorridente, diz que a luta mais marcante de sua vida foi o combate com o Rickson Gracie, no Maracanãzinho.
“Meu pai havia me adito. Olha Zulu, como é que tu, um preto do interior do Maranhão, desconhecido vai encarar esse lutador, que é uma estrela, tem todo apoio e todo aparato? Mesmo assim fui lá e tenho certeza que venci, mas os juízes apontaram a minha derrota por pontuação”, acrescenta o Rei Zulu.
Sem demonstrar qualquer ponta de mágoa, afirma que enfrenta muitas dificuldades financeiras, porque sobrevive apenas com um salário mínimo, mas diz esperar dias melhores.
Sobre a falta de locomoção, destaca que vai conseguir andar. Durante a conversa, recebe o telefonema de uma amiga, que diz que vai lhe enviar uma medicação caseira, à base de sebo de carneiro. Como todo interiorano, ela acredita que receita como essa, auxiliada por benzeduras, vai lhe fazer andar dentro de poucos dias.
A conversa foi saborosa, temperada por goles de café pretos e os três jornalistas deixaram a pequena casa de Casimiro Nascimento, na certeza de que, quem já foi rei jamais deixa de ser majestade, mesmo sem pompas de realeza. As fotos, em frente a uma pequena estante de madeira, ornamentada com troféus e fotos que lembram a carreira desse grande lutador, hoje abatido pela idade e pela falta de recursos.
QUEM É REI ZULU:
Casimiro de Nascimento Martins, conhecido mundialmente por Rei Zulu, nasceu em 9 de junho de 1947 no município maranhense de Bequimão. Lutador de vale-tudo brasileiro, especialista na luta tradicional “Tarracá” que ele mesmo desenvolveu.
Rei Zulu ficou famoso por desafiar lutadores do Brasil e de outras partes do mundo. Em 1980, depois de 17 anos de competição e invicto após 150 lutas. Foi então que, Rei Zulu lançou um desafio à família Gracie (criadores do MMA) para provar quem era o melhor lutador de vale-tudo
do Brasil.
O também invicto Rickson Gracie aceitou o desafio e lutou com Rei Zulu em um combate televisionado histórico no Brasil. Em uma luta dura, Rei Zulu perdeu sua invencibilidade quando Rickson Gracie o derrotou por finalização. Em um reencontro poucos anos depois, Rei Zulu foi
derrotado novamente por pontos. Porém, no dia 30 de Novembro de 1984 Rei Zulu alcançou sua maior vitória sobre o competidor Sérgio Batarelli, lutador de kickbox.
Rei Zulu já era considerado uma figura lendária em MMA) e continuava a
lutar. Em 1990, foi derrotado por nocaute por James Adler. Em 6 de Abril de 2000 no Piauí, num um combate televisionado, Rei Zulu, com 55 anos de idade, perdeu por nocaute para o lutador de Kung Fu Wellington Dourado. Rei Zulu perdeu o combate quando foi atingido, caindo
do ringue e desmaiando ao bater com a cabeça no chão.
Lutando como meio de sobrevivência, em 2007 com 62 anos, Rei Zulu fez três lutas no Brasil e venceu todas elas por nocaute. Hoje aos 72 anos, o ex-lutador tenta se recuperar de um AVC e para piorar, recentemente quebrou o fêmur da coxa esquerda deixando sem poder se locomover.
Atualmente vive das ajudas de amigos e de um salário mínimo de aposentadoria da Previdência Social.
.Mesmo assim, tem sonhos para o futuro, destacando esperar apoio de alguns amigos, através de uso de sua imagem em projetos que venham a beneficiar principalmente as crianças. Acha que a prática do esporte é um antídoto contra as drogas, contra a marginalidade