“Representar toda a expectativa nacional nesse voto que seguramente vira uma página na história do País justifica a minha passagem pela vida pública”. As primeiras declarações de Bruno Araújo, o deputado do PSBD que apresentou o 342º e decisivo voto “sim” para que o processo do impeachment de Dilma siga para o Senado, demonstram a “grande honra” que sentiu por ter participação activa e historicamente importante num dos dias de maior relevo da democracia do Brasil. Mas o nome do deputado já consta noutro dossier igualmente histórico para a política brasileria: a Operação Lava Jato onde, segundo o Estadão, surge na lista de pagamentos feitos pela Odebrecht entre 2010 e 2012.
Oriundo de uma família de políticos e formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, o advogado de 44 anos cumpre o terceiro mandato como deputado federal e ganhou projecção quando, no ano passado, se tornou líder da oposição na Câmara de Deputados. O seu primeiro cargo político relevante foi de deputado estadual – em 1998, aos 26 anos, foi eleito pelo PSDB e tornou-se o deputado mais jovem do Estado de Pernambuco, com mais de 34 mil votos.
“Quanta honra o destino me reservou de poder, da minha voz, sair o grito da esperança de milhões de brasileiros. Pernambuco nunca faltou ao Brasil, carrego comigo nossas histórias de luta pela liberdade e pela democracia. Por isso, viva o Brasil, sim, pelo futuro”, declarou o deputado que faz parte do grupo do presidente do PSDB, Aécio Neves, derrotado por Dilma nas presidenciais de 2014.
Araújo foi um dos muitos deputados cujo nome apareceu envolvido na Operação Lava Jato: segundo o Estadão, o nome apareceu na lista de pagamentos feitos pela Odebrecht referentes às campanhas eleitorais de 2010 e 2012, em Março deste ano, depois de mais uma ronda de buscas e apreensões. O deputado garantiu que os valores eram donativos oficiais, sendo que os de 2010 se destinavam à campanha para deputado federal e os 2012 remetiam para valores recebidos pelo PSDB e passados “oficialmente” para as candidaturas a prefeito em Pernambuco.
O juiz federal Sérgio Moro, o homem mais criticado por Dilma Rousseff e Lula da Silva e que conduz as investigação da Lava Jato, afirmou não ser possível concluir que essa lista da Odebrecht é fruto de “dinheiro da caixa dois”, ou seja, de lavagem de fundos.