As campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) têm priorizado o Google e, principalmente, o YouTube para distribuir anúncios digitais, segundo levantamento feito pelo GLOBO. Os dois candidatos a presidente investiram mais em propagandas nos serviços da empresa com foco em mecanismos de busca do que nas redes da Meta, controladora do Facebook e do Instagram. O comportamento vai na contramão do observado na eleição de 2018 e também é distinto do ranking que leva em conta os candidatos para todos os cargos nas eleições de 2022, em que ainda há predomínio do Facebook.
Somente no Google, a campanha do petista já desembolsou R$ 16,3 milhões em mais de 2 mil anúncios, contra R$ 13,7 milhões de Bolsonaro distribuídos em 645 peças, segundo o relatório de transparência da empresa de tecnologia. O atual presidente passou a gastar mais com esse tipo de publicidade no segundo turno. A título de comparação, nos últimos 90 dias a campanha de Lula gastou R$ 767,9 mil com impulsionamentos no Facebook e no Instagram, enquanto o PL desembolsou, em nome da campanha de Bolsonaro, R$ 1,5 milhão, segundo dados públicos da Meta.
Mais de 85% dos anúncios distribuídos têm formato de vídeo, o que reforça que o foco está no YouTube. Tanto Lula quanto Bolsonaro miram mais eleitores de São Paulo e Minas.
São várias as razões para tanto investimento no Google, segundo integrantes da campanha de Lula. A principal é que a plataforma permite uma segmentação mais eficiente ao exibir anúncios associados a temas pesquisados pelos eleitores, enquanto no Facebook as postagens aparecem pulverizadas no feed em meio a conteúdos sem qualquer relação com a mensagem política. Outro ponto é a avaliação de que a discussão no YouTube ajuda a pautar mais a política do que os anúncios na Meta. Fatores técnicos, como a precificação mais em conta das peças, também entram no cálculo.
No Google, uma das opções permitidas aos candidatos é a chamada segmentação contextual, em que é possível explorar temas e palavras-chave em sites, apps, páginas e vídeos. Uma das possibilidades é desmentir fake news pesquisadas pelos eleitores ou mesmo enfatizar ataques em tempo real, à medida que a pauta ganhe relevância, inclusive se surgirem durante debates.
Um exemplo do potencial e da agilidade da plataforma é a repercussão da declaração de Bolsonaro de que “pintou um clima” com adolescentes venezuelanas durante um passeio de moto em Brasília no ano passado. Quando o tema explodiu em interesse de buscas e no noticiário, a campanha de Bolsonaro imediatamente reagiu com anúncios com o título “Bolsonaro NÃO é pedófilo”, enquanto o perfil de Lula apostou em 17 inserções no YouTube sobre o assunto, retiradas em seguida por decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
Fonte: O Globo