O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), é hoje um dos principais nomes da esquerda. Criticado pelo presidente Jair Bolsonaro durante café da manhã com jornalistas estrangeiros, o político foi reeleito no primeiro turno no ano passado. Nas últimas semanas, Dino concedeu três entrevistas: ao Canal Livre, da Band; ao Roda Viva, da TV Cultura; e à jornalista Miriam Leitão, na GloboNews. Ele destacou alguns dos feitos do seu governo, principalmente nas áreas de educação e segurança pública, e citou dados sobre economia e política nacional. A Lupa checou algumas das frases do governador. Veja o resultado:
“[Há] 49 escolas [de Ensino Médio] em tempo integral hoje funcionando [no Maranhão] (…)”
Flávio Dino, governador do Maranhão, em entrevista ao Canal Livre, da Band, em 16 de setembro de 2019
VERDADEIRO, MAS
Segundo o governo do estado do Maranhão, há 36 escolas de Ensino Médio, em 24 municípios do estado, funcionando em regime integral. O modelo de Centros de Educação Integral, criado a partir da lei 10.414/2016, estabelece um modelo de ensino com 7h50 de carga horária diária curricular. Além disso, o Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão tem 13 unidades, em 12 municípios, que oferecem ensino profissionalizante em dois turnos.
Mas o Maranhão já tinha escolas que ofereciam ensino integral antes da criação destas instituições. Segundo o Censo Escolar de 2018, 83 instituições funcionava com essa modalidade, o equivalente a 10% das instituições do estado. Este número está abaixo da média nacional – 19% das escolas estaduais do país tem pelo menos uma matrícula em ensino integral.
A Lupa procurou indicadores escolares do próprio governo maranhense, mas o site estava indisponível.
“(…) Onde antes não tinha nenhuma [escola de Ensino Médio em tempo integral]”
Flávio Dino, governador do Maranhão, em entrevista ao Canal Livre, da Band, em 16 de setembro de 2019
EXAGERADO
Segundo o Censo Escolar de 2014, do Inep, último realizado antes da posse de Dino como governador, a rede estadual maranhense já tinha escolas com matrículas em tempo integral. No ensino médio, naquele ano, eram 66 instituições, sendo que em nove delas, mais de 70% das matrículas eram de tempo integral. O que não existia eram os Centros de Educação Integral citados anteriormente.
Pelos critérios do Inep, é considerada matrícula em tempo integral qualquer aluno que frequente a escola por mais de sete horas por dia, incluindo atividades escolares e complementares. Na maioria das instituições de ensino, apenas parte dos alunos usufruem desse tipo de matrícula.
Já os Centros de Educação Integral, criados no Maranhão a partir de 2016, têm carga horária de 7h50 de atividades escolares, e funcionam em período integral para todos os alunos. Ao todo, são 36 centros nesse modelo, em 24 municípios do estado.
A assessoria de imprensa do governo do Maranhão afirmou, em nota, que os critérios do Censo e do governo diferem. “O Censo Escolar leva em consideração as atividades complementares ou matrículas em projetos desenvolvidos no contraturno pelas escolas, para caracterizá-las como escolas de tempo integral. Isto é, o Censo Escolar usa conceitos distintos do que a Secretaria de Estado da Educação. Os conceitos das leis estaduais são mais rigorosos do que os do Censo Escolar”, diz a nota.
“Hoje, nós temos US$ 380 bilhões em reservas internacionais, 20% do PIB (…)”
Flávio Dino, governador do Maranhão, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, em 23 de setembro de 2019
VERDADEIRO
Segundo o Banco Central do Brasil, o Brasil tinha, no dia 25 de setembro de 2019, US$ 378,3 bilhões em reservas internacionais. Isso representa 20,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2018 – de acordo com o Banco Mundial, US$ 1,868 trilhão. Os dados são divulgados diariamente, e o valor oscila entre US$ 360 bilhões e US$ 390 bilhões desde março de 2012.
“(…) Praticamente nenhum país do mundo carrega essas reservas internacionais”
Flávio Dino, governador do Maranhão, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, em 23 de setembro de 2019
FALSO
Entre os 19 países que compõem o G-20 (a União Europeia é o vigésimo membro), grupo que reúne as principais economias do mundo, o Brasil tem a sétima maior reserva internacional.
Isso significa que seis países do grupo têm reservas mais valiosas do que o Brasil: China (US$ 3,221 trilhões, 23,7% do PIB), Japão (US$ 1,343 trilhão, 27% do PIB), Rússia (US$ 532 bilhões, 32,1% do PIB), Arábia Saudita (US$ 512 bilhões, 65,5% do PIB), Índia (US$ 429 bilhões, 15,8% do PIB) e Coreia do Sul (US$ 401 bilhões, 24,8% do PIB). Em média, os países do grupo têm 12,5% do PIB em reservas internacionais.
Além dos países citados acima, outras três nações não pertencentes ao G-20 têm mais reservas internacionais do que o Brasil: Suíça (US$ 829 bilhões, 117,5% do PIB), Taiwan (468,1 bilhões, 79,4% do PIB) e Hong Kong (US$ 432 bilhões, 119,2% do PIB). Veja os dados aqui.
Procurada para comentar, a assessoria disse que o governador afirmou que “praticamente nenhum” país tem reservas internacionais comparáveis às do Brasil, e não que “nenhum” as tem. Em nota, assessoria explicou que a sentença “utilizada pelo governador indica que poucos países no mundo adotam a prática.”
“Nós tínhamos Ideb de 2,8 [pontos em 2013], chegamos a 3,4 [pontos em 2017], portanto, crescimento de 20% em apenas quatro anos”
Flávio Dino, governador do Maranhão, em entrevista a Miriam Leitão, na GloboNews, em 26 de setembro de 2019
VERDADEIRO, MAS
O resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) apontado por Flávio Dino está correto, mas é válido apenas para a 3ª série do ensino médio no estado. O valor para esse período escolar medido em 2013, antes de o governador assumir, de fato foi de 2,8. O Ideb subiu para 3,1 em 2015 e, em 2017, chegou a 3,4. Nessas três medições, no entanto, a nota obtida não atingiu a meta projetada (3,0, 3,3 e 3,7, respectivamente).
No 5º ano do ensino fundamental, o Ideb do Maranhão manteve-se praticamente estável nas três últimas medições. Passou de 4,2, em 2013, para 4,3, em 2015, e 4,1, em 2017. Houve melhora no 9º ano do ensino fundamental, menor do que a identificada na 3ª série do ensino médio. Em 2013 e 2015, o Ideb ficou em 3,8 e subiu para 4,2 em 2017 – uma diferença de 10,5%. Nenhum dos últimos três resultados nos dois anos do ensino fundamental atingiu as metas projetadas para o estado.
“[O Maranhão tem o] Terceiro melhor Ideb do Nordeste”
Flávio Dino, governador do Maranhão, em entrevista a Miriam Leitão, na GloboNews, em 26 de setembro de 2019
VERDADEIRO, MAS
O Ideb do Maranhão é o terceiro do Nordeste quando considerados os resultados obtidos para a 3ª série do ensino médio em 2017 (3,4) e para o 9º ano do ensino fundamental (4,2). Nos dois casos, apenas Pernambuco (4,0 e 4,5) e Ceará (3,8 e 4,5) ficaram na sua frente na região. No 5º ano do ensino fundamental, no entanto, o Maranhão teve o pior resultado registrado (4,1) entre todas as unidades da Federação (com exceção de Roraima, que não participou da avaliação), e ocupou o último lugar.
Considerado todo o país, o estado governado por Flávio Dino ocupou a 13ª posição no Ideb do último ano do ensino médio em 2017, empatado com o Distrito Federal e o Rio Grande do Sul. O Pernambuco e o Ceará ocuparam, respectivamente, o 3º e o 4º lugares nacionalmente. No 9º ano do ensino fundamental, o Maranhão obteve a 17ª posição nacional.
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