Leia na íntegra matéria veiculada no site 180 graus, no dia 04/03/2013…
Foi em Imperatriz, no sábado, 23 de fevereiro, no plenário da Câmara de Vereadores. O evento deveria ser o grande fato político da abertura do ano pré-eleitoral, mas acabou pequeno, obrigando os organizadores a adiá-lo por mais de uma hora até que fossem arregimentadas pessoas para ocupar menos da metade dos lugares de um plenário com cerca de 100 assentos. Ficaram os registros feitos pelos cinegrafistas amadores com câmeras de telefones celulares.
Num discurso em tom raivoso, o presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), já em campanha para o Governo do Estado nas eleições de 2014, por duas vezes colocou em xeque a honestidade dos integrantes do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE); ofendeu aliados políticos tratados por ele como cínicos, opressores e ladrões e debochou da memória recente de quem acompanha a política maranhense ao dizer que ele era um projeto político do ex-governador Jackson Lago, falecido há pouco mais de um ano.
Acompanhavam Flávio Dino políticos de São Luís, como o deputado federal Weverton Rocha (PDT), deputado estadual Othelino Neto (PPS), o ex-deputado Julião Amin e o ex-vereador Renato Dionísio. Da região de Imperatriz compareceram os deputados estaduais Carlinhos Amorim e Valéria Macedo; o ex-prefeito de Porto Franco, Deoclides Macedo, e o prefeito de Ribamar Fiquene, Vasco José, todos do PDT.
Recortes – Em seis recortes de um discurso de meia hora, o aspirante dá o tom do que será sua pregação em mais uma tentativa de ser governador do Maranhão.
Não há uma só ideia colocada de projeto de desenvolvimento. A única alusão quanto ao futuro revela ser ele contra os grandes empreendimentos que atualmente se instalam no estado.
Flávio Dino :
“…na hora mais difícil, em que se movia um processo arbitrário de cassação contra o seu mandato dado pelo povo, eu, o Marco Aurélio, que aqui está, e outros tantos, assumimos a tarefa de advogar pro doutor Jackson, numa prova da confiança que tinha no meu trabalho, na minha independência, na minha coragem e na minha seriedade. E o Marco Aurélio, que tá aqui, junto comigo, lembra do que nós enfrentamos no TRE do Maranhão. Lembra do jogo de cartas marcadas que estava ali colocado…”
Logo no trecho inicial do discurso, em território que se configurou como o maior reduto eleitoral de Jackson Lago, Flávio Dino quis se caracterizar como da mais absoluta confiança do ex-governador e como um advogado e político que teve a coragem de enfrentar o que ele denominou de “jogo de cartas marcadas” feito pela Justiça Eleitoral.
Naquela época, abril de 2008, o então deputado federal Flávio Dino sonhava com o apoio do então governador Jackson Lago para a eleição do ano seguinte, para prefeito de São Luís. Foi ali que se deu no TRE do Maranhão a primeira audiência do processo de cassação do diploma de governador de Lago, por abuso de poder econômico. O advogado famoso de Jackson, Eduardo Alckmin, não compareceu e, de última hora, formou-se uma banca de defesa chefiada por Dino. O processo se arrastou lentamente e na segunda audiência, no segundo semestre do mesmo ano, já estava definido que Jackson apoiaria João Castelo, PSDB, contra Flávio Dino, o que fez com que o comunista não mais figurasse como advogado de defesa. Em lugar dele, estava lá o advogado Daniel Leite.
Flávio Dino :
“…no dia do primeiro turno de 2010, (…) o doutor Jackson pegou o telefone às oito horas da noite e me disse: ‘Flávio, o meu voto é teu, o meu apoio é teu, a minha vaga é tua…! Naquele dia, ele estava lembrando das lealdades mais sinceras que não são apenas como as espumas das ondas. São aquelas que estão nas profundezas, na história de vida, na alma, na trajetória de cada um. E foi por isso que o Jackson adotou esta atitude, porque nós temos que ser fiéis a nossa trajetória…”
Jackson Lago nunca exercitou seu prestígio eleitoral e seu poder político em favor de Flávio Dino e vice-versa. Em 2006, Jackson era candidato ao governo pela coligação liderada pelo PDT, e Flávio era candidato a deputado federal pelo PC do B, numa coligação que tinha o comando do então prefeito de Caxias, Humberto Coutinho, e para governador apoiava o ex-ministro do STJ, Edson Vidigal. No segundo turno, oficialmente estiveram juntos, mas por imposição do chefe da chamada “cooperativa de candidatos”, o então governador José Reinaldo Tavares. Ainda assim, em Caxias, onde Dino obteve quase todos os seus votos, Jackson não conseguiu estabelecer vantagem significativa.
Em 2008, para prefeito de São Luís, Jackson se desdobrou em apoio a João Castelo para derrotar Flávio Dino tanto no primeiro como no segundo turno. Ao final, Dino chorou na televisão, alegando que perdera para a “máquina”. A “máquina” era o governo do Estado pilotada por Jackson Lago.
Em 2010, Jackson e Flávio disputaram ferozmente a primazia da vaga no segundo turno das eleições para o governo do Estado. Dino chegou a fixar-se em Imperatriz nos últimos dias para tentar minar a melhor base de Lago. Os dois naufragaram. Repetidas vezes Jackson responsabilizou o esquema mais estruturado do comunista (que lhe subtraiu apoios importantes) pelo fracasso da sua última campanha eleitoral.
Flávio Dino :
“…não tínhamos nada, praticamente nada. Eu lembro que fomos nessa época para a campanha pro governo do estado com quatro carros de som. Mas não era só para Imperatriz, era para o Maranhão inteiro…”
Há registros de imagem da utilização até de helicóptero, muito embora isso não tenha sido declarado como despesa de campanha, como obriga a lei, ainda que esse helicóptero tenha sido uma gentileza de Dedé Macedo, um dos seus aliados, homem de muitos negócios, da região de Peritoró. Mas impresinou os imperatrizenses, onde a campanha de Flávio Dino foi intensa, assim como todo o estado, a coragem de dizer que toda a sua estrutura se resumia a “quatro carros de som”.
Flávio Dino :
“…E nós perdemos a eleição porque foi necessário fraudar a eleição no Tribunal Regional Eleitoral, na calada da noite…”
Com autoridade de ex-juiz federal e de ex-presidente do Conselho Nacional de Justiça, CNJ, Flávio Dino debitou sua derrota a fraudes que teriam sido operadas pelos integrantes do TRE do Maranhão, inclusive desembargadores e juízes. Até então ele não se queixara disso.
O comunista diz que os fraudadores agiram “na calada da noite”, esquecendo-se de que ele próprio reconheceu sua derrota antes das 22h do dia da eleição em primeiro turno. A apuração total, jamais contestada, se deu antes das 21h, quando o Maranhão inteiro acompanhava pelo rádio e pela televisão a evolução natural dos trabalhos do TRE.
Mais uma vez Dino quis passar a ideia de que ele não se tornou governador do Maranhão por um detalhe que ele chamou de “uma diferença de oito centésimos”, quando, na realidade, ele foi derrotado em primeiro turno, ficando atrás da governadora eleita por mais de 900 mil votos, diferença que representa, por exemplo, uma vez e meia o eleitorado total da capital São Luís.
Flávio Dino :
“…se a gente não tem coração, se a gente não ama o que faz, somos iguais à direita. Cínica, que explora o povo, que oprime o povo, que rouba o dinheiro do povo …”
Os principais apoiadores de Flávio Dino militam no campo da direita, a começar pelo que o introduziu na carreira política, ex-governador José Reinaldo Tavares (réu preso pela Operação Gautama, da Polícia Federal), e pelo seu principal cabo eleitoral do interior, ex-prefeito de Caxias Humberto Coutinho, passando pelo ex-prefeito de Matões Rubens Pereira e o prefeito de Tuntum, Cleomar Tema. Coincidência ou não todos questionados por suportos desvios de dinheiro público.
Flávio Dino :
“…nós vamos fazer isto, adotar uma política industrial democrática. Não essa historinha de grandes projetos que vão salvar todo mundo. O exemplo da Base de Alcântara, que o Dutra conhece tão bem. Não são grandes projetos que vão salvar o Maranhão…”
A construção de infraestrutura e a distribuição de incentivos fiscais, como forma de atrair grandes empreendimentos capazes de gerar empregos em massa, em três anos e meio abriram uma carteira de investimentos de R$ 100 bilhões e está gerando cerca de 200 mil empregos, como ocorre em Imperatriz, onde a Suzano já absorve em torno de 8 mil funcionários em sua obra, e possibilita milhares de outras ocupações de forma indireta. No exercício de uma candidatura antecipada, Flávio Dino discursa contra isso.
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