Até hoje os princípios básicos das finanças desenvolvidas na Babilônia regem o mundo dos negócios. Símbolo de luxo e poder no mundo antigo, apesar das inúmeras dificuldades por estar localizada em um vale árido e desprovida de recursos naturais, a Babilônia é um exemplo da capacidade do ser humano de atingir grandes objetivos.
Mas nem sempre foi assim. Os babilônios primeiro tiveram que aprender a se tornar prósperos. As riquezas da Babilônia foram o resultado da sabedoria de seu povo. Eles sabiam estimar o valor do dinheiro e praticavam princípios financeiros saudáveis na aquisição de dinheiro, tinham a ideia de poupá-lo e de fazer com que suas economias produzissem ainda mais dinheiro.
Segundo Clason (2005), após anos de prosperidade na Babilônia, o rei se viu confrontado com uma séria situação; o ouro estava concentrado na mão de poucos homens na cidade, e em geral o povo era incapaz de garantir sua própria sobrevivência. Os trabalhadores estavam desempregados, os comerciantes contavam com poucos fregueses, e os fazendeiros não conseguiam vender suas colheitas. E o rei não entendia como podia poucos homens ser capazes de acumular tantas riquezas.
Como o desejo do rei era que a Babilônia fosse a cidade mais rica do mundo, mandou chamar Arkad, o homem mais rico da Babilônia, a fim de que com seu conhecimento pudesse ensinar ao povo como acumular riquezas.
Arkad então escolheu 100 homens e os reuniu no Templo do Saber para lhes ensinar as verdades sobre o trato com o dinheiro, e cada um desses homens ensinariam outros até que tivesse um quadro amplo o bastante para levar as verdades a todos os súditos do reino.
Conforme Clason (2005), a educação financeira dos babilônios estava baseada em sete princípios. O homem que soubesse aplicar estes princípios em sua vida, certamente adquiriria grande fortuna e seria próspero e respeitado na sociedade.
Primeiro princípio: Comece a fazer seu dinheiro crescer
“Esta, meus discípulos, foi a primeira solução que descobri para a falta de dinheiro: ‘Em cada dez moedas conseguidas de qualquer fonte, não gastem mais do que nove’”. (CLASON, 2005, p 43)
Muitos questionam como pode um cidadão guardar um décimo de todos os seus ganhos, se em geral seus rendimentos mal dão para as despesas necessárias. Segundo o autor, é fundamental que cada um analise cuidadosamente o seu modo habitual de viver, certamente há muitos gastos que podem ser reduzidos ou eliminados,
Nem todos recebem a mesma renda. Naturalmente uns ganham mais do que os outros, mas apesar disso, a maioria das pessoas estão desprovidas, isso porque a medida que aumenta-se a receita, aumenta-se também os gastos. Conforme o autor, as “despesas necessárias” sempre crescerão para tornar-se igual aos rendimentos, a menos que se faça alguma coisa para inverter essa tendência. O importante é não confundir despesas necessárias com desejos. Todo homem tem mais desejos que seus ganhos podem satisfazer. Os desejos são uma multidão, porém os desejos capazes de satisfazer são poucos.
Segundo princípio: Controle seus gastos
“Façam um orçamento de suas despesas de modo que possam ter dinheiro para pagar pelo que é necessário, pelos prazeres e para satisfazer seus mais valiosos desejos sem despender mais do que nove décimos de seus ganhos” (CLASON, 2005, p 45).
Arkad ensinou que o propósito do orçamento é ajudar a juntar dinheiro. O objetivo do orçamento é capacitar a perceber os mais profundos anseios, defendendo contra aquisições meramente casuais. Para Clason, como uma luz brilhando numa caverna escura, o orçamento deixa a descoberto os vazamentos, dando-lhes condições de estanca-los e destinar as despesas a propósitos definidos e gratificantes, mas é imprescindível acatar como uma verdadeira divisa a noção de reservar 10% do valor estimado sobre cada moeda ganha.
Para Arkad, o importante era listar cada uma das coisas passíveis de despesas. Selecionar as necessárias, além de outras cujo custo não ultrapassasse os nove décimos dos rendimentos e cancelar o resto, considerando que esta era apenas uma parte da grande multidão de desejos que não podem ser satisfeitos. Para isso é fundamental que se tenha um orçamento para as despesas imprescindíveis, não tocar naquele décimo que esta engordando a bolsa, encarar o crescimento da reserva como um belo propósito de vida, e procurar trabalhar com o orçamento estabelecido, buscando torna-lo como um trabalhador na defesa de uma crescente reserva.
Terceiro princípio: Multipliquem seus rendimentos
“A riqueza de um homem não deve ser aquilatada pelas moedas que ele consegue juntar; ela se acha, sim, nos lucros que essa soma pode produzir, a torrente de ouro que flui continuamente para dentro de suas bolsas, conservando-as sempre bojudas. É afinal o que todo homem deseja – uma renda que não cesse de crescer esteja vocês trabalhando ou viajando” (CLASON, 2005, p 46).
Arkad ensinou que quem tem disciplina para reservar um décimo de todos os seus ganhos, e sabe controlar as despesas para proteger o seu tesouro crescente, deve considerar também os meios para por esse dinheiro trabalhar e crescer. Ter dinheiro guardado é gratificante e pode alegrar uma alma avarenta, mas isso não leva a nada. A quantia que se pode separar das diversas formas de remuneração não passa de um começo. Seus ganhos sim é que construirão fortunas.
Segundo Arkad, a riqueza foi gerada através da multiplicação de seus rendimentos. A partir de seus ganhos modestos, gerou-se uma reserva de escravos dourados, cada qual labutando para produzir mais ouro. Como trabalhavam para ele, seus filhos também o faziam, e os filhos dos filhos, até que dessa concentração de esforços surgiu uma bela renda. De poucas fontes no inicio, de muitas outras depois, desaguou em sua bolsa uma torrente dourada de riqueza que podia ser usada como bem entendesse.
Quarto princípio: Proteja seu tesouro contra a perda
“Protejam seus tesouros contra a perda, investindo onde o principal esteja a salvo, onde possa ser reivindicado sempre que desejarem e onde fique claro para vocês que vão conseguir uma bela renda. Consultem homens experimentados. Sigam a opinião daqueles que lidam habilmente com o dinheiro. Deixem que o tirocínio deles protejam seus tesouros contra os investimentos de alto risco” (CLASON, 2005, p 49).
O dinheiro que o homem poupa deve ser guardado com firmeza, do contrário corre o risco de perder-se. Logo, é prudente aprender a manusear e protege-lo contra os infortúnios. Todo homem que possui dinheiro guardado costuma ser induzido, na esperança de conseguir grandes somas, a fazer investimentos nos mais diferentes projetos. Com bastante frequência, amigos e parentes estão avidamente interessados nisso e incentivam a realiza-lo.
Segundo Clason (2005), o primeiro princípio saudável dos investimentos é a segurança do capital aplicado, ou seja, o principal. Antes de emprestá-lo a quem quer que seja, é fundamental certificar-se da capacidade do beneficiário de devolvê-lo e de sua reputação como bom pagador, para que não esteja, inadvertidamente, fazendo um presente de algo tão arduamente poupado. Antes de destiná-lo a um investimento em qualquer campo de negócio, é imprescindível acautelar-se contra os perigos possíveis.
Quinto princípio: Faça do lar um investimento lucrativo
“Assim, muitas bênçãos recaem sobre o homem que tem sua própria casa. E isso reduz em muito suas despesas, permitindo que uma parte maior de seus ganhos seja destinada aos prazeres e à satisfação dos desejos” (CLASON, 2005, p 51).
Segundo Clason (2005), os emprestadores de dinheiro vêem com bons olhos os desejos do homem que procura um lar e um pedaço de terra para a família. É fácil conseguir o empréstimo para contratar o fabricante de tijolos e o construtor, se tiver condições de apresentar uma parte razoável da soma necessária para tão louvável propósito. Quando a casa estiver pronta, será fácil pagar o emprestador de dinheiro com a mesma regularidade com que anteriormente acertavam-se os aluguéis. Como cada pagamento vai paulatinamente reduzindo a dívida com o emprestador de dinheiro, em poucos anos não haverá mais dívida com ele.
Para Arkad, todo homem devia ter seu próprio domicílio, com um pedaço de chão disponível para cuidar e sentir orgulho, dar confiança ao coração e maior animo aos seus esforços. Por isso recomendava que todo homem tivesse seu próprio teto, a fim de contar com um abrigo para si e para os seus. Os corações seriam então felizes, porque estariam legitimamente na posse de um bem estável e valioso, cuja única despesa seria os impostos reais.
Sexto princípio: Assegurem uma renda para o futuro
“Em meu espírito permanece a crença de que algum dia homens de tirocínio descobrirão uma maneira de o cidadão assegurar-se contra a morte através de pequenos depósitos regulares, assim propiciando uma bela soma à família depois que tivesse de passar para o outro mundo. Vejo isso como algo desejável, digno da mais alta recomendação. Mas hoje ainda não é possível porque não haveria homem ou sócio com uma duração de vida suficiente para operar tal sistema, que deve ser uma coisa tão estável como o trono do rei. Sinto que algum dia um plano como esse existirá e será uma grande benção para muitos homens, porque mesmo o primeiro pequeno pagamento tornará disponível uma razoável fortuna para a família dos membros que viessem a falecer”(CLASON, 2005, p 53).
Arkad ensinava que a existência de todo homem vai da infância à velhice. Esse era o caminho da vida, e nenhum homem podia desviar-se dele a menos que os deuses o chamassem prematuramente para o mundo do além. Por isso Arkad dizia que cabia a todo homem providenciar uma renda condizente para os dias futuros, quando ele não seria mais jovem, e providenciar que a família não ficasse na penúria, quando já não pudesse contar com ele para o seu conforto e sustento.
Sétimo princípio: Aumente sua capacidade para ganhar
“Quanto mais conhecimentos adquirimos, mais poderemos ganhar. O homem que busca aprender sempre mais sobre sua profissão será ricamente compensado” (CLASON, 2005, p 55).
O sétimo princípio de educação financeira ensinado por Arkad, refere-se a capacidade de ganhar dinheiro. Muitos se queixam que seus ganhos são insuficientes para custear as despesas. Mas o que fazem para aumentar sua capacidade de ganhos?
À proporção que um homem aperfeiçoa-se em seu ofício, sua capacidade para ganhar dinheiro também cresce. Quanto mais conhecimento se adquire, maior é a capacidade para ganhar dinheiro. Os negócios humanos mudam e aperfeiçoam-se, porque cidadãos estão sempre procurando melhorar a própria habilidade, a fim de servirem com mais eficiência e qualidade aqueles de que dependem.
Toda jornada começa com um primeiro passo. A maior parte dos grandes investidores não nasceram ricos, mas iniciaram suas fortunas com valores pequenos e grande disciplina. Cabe a cada um estabelecer metas para si próprio, mas uma vez que as defina, deve sempre manter na mente e lutar com determinação para alcançá-las.
Ricardo Dutra Pereira é Administrador de Empresas com MBA em Mercado de Capitais. Personal & Professional Coach e Leader as Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching. Coordenador e Professor do MBA em Mercado de Capitais e Relação com Investidores da Faculdade da Serra Gaúcha, Planejador Financeiro Pessoal e Sales Trader da Corretora Santander.