O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) defende a unidade da esquerda na eleição presidencial, de preferência em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dino, no entanto, admite que a situação de Lula, preso em Curitiba, é uma trava para o diálogo entre os partidos de esquerda sobre outro nome de consenso.
Quando o senhor foi eleito em 2014 abriu o palanque para os três principais candidatos a presidente, Dilma, Aécio e Eduardo Campos. Agora sete dos 14 partidos que apoiam seu governo anunciaram pré-candidaturas, inclusive o PCdoB. O senhor pretende repetir a estratégia?
A fórmula é a mesma. Tenho meu voto pessoal que obviamente é na candidata do meu partido, a Manuela DÁvila, mas ao mesmo tempo cumpro o papel de acolher os candidatos de partidos da nossa aliança.
O senhor se arrepende de ter dado palanque para Aécio?
Não, porque a conjuntura naquele momento indicava que tínhamos o apoio do PSDB que indicou o vice-governador e, atendendo a um pedido do PSDB, eu participei de eventos com o candidato Aécio contra o qual não existia nenhuma denúncia. Você não pode julgar o passado com os olhos de hoje.
Quais as chances de Manuela?
Temos uma eleição muito aberta porque sem Lula todo mundo fica ali no mesmo patamar. Todos os candidatos que lideram podem desmanchar, casos do Bolsonaro, da Marina, do Joaquim. Por isso temos que manter a candidatura dela até que se coloque outra dinâmica. Daqui para julho, vamos ver.
O senhor falou em uma eleição sem Lula. Ele está descartado?
Temos dificuldade de prognosticar a presença do Lula na urna. Defendo o direito de ele concorrer porque acho que ele foi vítima de uma arbitrariedade. Ainda há muito em jogo, muita perspectiva, e acho fundamental que o Lula se mantenha no debate. Levo em conta dois cenários: se Lula for candidato, todos com Lula; se não for é uma eleição aberta.
Acha possível uma unidade da esquerda já no primeiro turno?
Acho possível e necessário para polarizar setores sociais mais amplos e também setores políticos. Se tiver uma eleição fragmentada pode ser que nenhum de nossos candidatos tenha viabilidade e isso pode resultar numa tragédia: ficarmos fora do segundo turno. Por isso acho importante, por exemplo, Ciro e Haddad conversarem.
A situação de Lula atrapalha a unidade?
Essa dúvida que paira sobre o Lula acaba impedindo esse debate porque a opção objetiva da sociedade, as pesquisas mostram, é em torno do Lula. Enquanto fica a hipótese do Lula você não consegue avançar em uma alternativa.
A necessidade das forças de esquerda de demonstrar solidariedade a Lula neste momento impede o debate sobre unidade?
Sem dúvida. É uma prova de generosidade de todos nós compreendermos que não seria leal neste momento descartá-lo e dar como fato consumado que ele vai ficar preso e não será candidato. Tem que esperar esse processo decantar. É um trauma muito profundo encarcerar o maior líder político da história brasileira.
O gesto teria de partir do Lula?
Acho que o próprio Lula em algum momento vai se posicionar, pela responsabilidade e pela indiscutível intuição política que ele tem.
As decisões recentes do STF são indícios?
São indícios da fragilidade do veredicto. É tão frágil que precisa produzir outros presos para se legitimar. É um negócio tão mal arrumado que é difícil de se sustentar por muito tempo.
Após 28 anos o ex-presidente Sarney transferiu o domicílio eleitoral de volta ao Maranhão. O que isso significa para o Estado?
Imagino que significa mais na política do Amapá. Eu diria que não foi um gesto de vontade. Ele chegou a ensaiar uma candidatura no Amapá mas aparecia mal nas pesquisas. Ficou evidente que não tinha mais nenhum papel a jogar lá. O certo é que ficou em uma situação frágil lá.
Mas ele tem articulado para tirar partidos da base do senhor.
Ele fez isso mas, graças a Deus, com escasso êxito. São ciclos históricos. No Livro do Gênesis, na Bíblia, quando a mulher de Ló olha para trás ela vira estátua de sal. Acho que isso se aplica também aos ciclos políticos. É um ciclo esgotado no Maranhão porque ninguém quer virar estátua de sal.