Hanrrikson de Andrade
A Polícia Federal brasileira fez contato com a Interpol nesta quinta-feira (26) a fim de identificar se o empresário Eike Batista está em território americano desde a manhã de quarta (25).
Eike é alvo de um dos nove mandados de prisão preventiva expedidos pela 7ª Vara da Justiça Criminal do Rio por conta da operação Eficiência, segunda fase da operação Calicute –braço da operação Lava Jato no Rio de Janeiro.
O empresário é acusado de pagar US$ 16,5 milhões (cerca de R$ 50 milhões, em valores atualizados) ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), preso por conta da Calicute e com mandado de prisão também na operação Eficiência.
A reportagem ligou para o celular do advogado de Eike, mas não conseguiu o contato. À “GloboNews”, ele afirmou que Eike se entregará quando voltar ao país. A assessoria de comunicação do grupo EBX, de Eike, ainda não foi localizada.
BOECHAT COMENTA MANDADO DE PRISÃO CONTRA EIKE BATISTA
De acordo com o delegado Tacio Muzzi, a PF fluminense recebeu a informação de que Eike teria viajado a Nova York na noite da última terça (24) no voo 974 da American Airlines. Existe a suspeita de que ele tenha usado um passaporte alemão. A companhia aérea informou, por meio da assessoria de imprensa, que não fornece informações sobre passageiros.
“Na madrugada de hoje chegou a informação de que ele poderia ter saído para fora do país na data do dia 24 à noite. Levantou-se na primeira hora de hoje a possibilidade de uma reserva da American Airlines no voo 974 –a PF está em pleno contato com a Interpol para saber se ele efetivamente chegou a Nova York”, disse.
O delegado informou que o nome de Eike poderá ser incluído na difusão vermelha da Interpol –índex dos mais procurados em todo o mundo. O delegado disse que “não se pode afirmar categoricamente que Eike teve intenção de fugir do país”.
O delegado afirmou que, apesar de a PF ainda não trabalhar com a hipótese de vazamento da operação –já que Eike pode ter viajado pouco mais de 24 horas antes da deflagração–, isso pode ser investigado.
Como há chance de o empresário se apresentar espontaneamente, segundo conversas do delegado com o advogado de Eike, ele ainda não é considerado foragido. “O advogado dele informou, durante a busca, a disposição de apresentá-lo”, resumiu o delegado.
O empresário não tem curso superior; com isso, o destino dele no sistema carcerário estadual só será definido após a apresentação às autoridades brasileiras.
Operação foi deflagrada hoje cedo
Os policiais chegaram à casa do empresário, localizada no Jardim Botânico, zona sul, por volta das 6h. Contra ele também está sendo cumprido mandado de busca e apreensão.
Entre os alvos de mandado de prisão estão Cabral, seu ex-assessor Carlos Miranda e o ex-secretário de governo Wilson Carlos. Os três já estão presos desde a Operação Calicute, realizada novembro do ano passado.
Segundo o juiz, a prisão dos três foi decretada mais uma vez porque apareceram fatos novos na investigação: “aparentemente estariam em curso condutas ilícitas ainda não apuradas, de lavagem e ocultação de ativos em nome de terceiros, e por isso não consideradas na decisão anterior que determinou as prisões preventivas destes acusados, o que igualmente sugere, também por esse motivo, a necessidade de novo decreto de prisão complementar, que acolho.”
Hoje foi preso o advogado Flávio Godinho, ex-braço direito de Eike e vice-presidente do Flamengo. Assim como o empresário, Godinho também é “investigado por corrupção ativa com o uso de contrato fictício”, segundo o MPF (Ministério Público Federal). O advogado já tinha sido alvo de condução coercitiva na 34ª fase da Operação Lava Jato, em setembro de 2016.
Eike, Godinho e Cabral também são suspeitos de terem cometido atos de obstrução da investigação porque, em uma busca e apreensão em endereço vinculado ao empresário em 2015, foram apreendidos extratos que comprovavam a transferência dos valores ilícitos de uma conta no Panamá para a empresa Arcadia Associados, segundo o MPF. Na transação, teriam sido pagos por Eike e Godinho US$ 16,5 milhões em propina para o ex-governador.
“Esse valor foi solicitado por Sérgio Cabral a Eike Batista no ano de 2010 e, para dar aparência de legalidade à operação, foi realizado, em 2011, um contrato de fachada entre a empresa Centennial Asset Mining Fuind Llc, holding de Batista, e a empresa Arcadia Associados, por uma falsa intermediação na compra e venda de uma mina de ouro”, segundo a força-tarefa da Calicute.
O trio teria orientado os donos da Arcadia a manterem perante as autoridades a versão de que o contrato de intermediação seria verdadeiro. Segundo o MPF, a empresa recebeu os valores ilícitos numa conta no Uruguai em nome de terceiros, mas à disposição de Cabral.
“De maneira sofisticada e reiterada, Eike Batista utiliza a simulação de negócios jurídicos para o pagamento e posterior ocultação de valores ilícitos, o que comprova a necessidade da sua prisão para a garantia da ordem pública”, dizem, em nota, os procuradores da Calicute.
De acordo com a Procuradoria, “quatro membros da organização” também são alvos de mandado de prisão: Álvaro Novis, Sérgio de Castro Oliveira, Thiago Aragão e Francisco Assis Neto.
O doleiro Álvaro Novis, sócio da corretora Hoya, foi mencionado pelos colaboradores como sendo a pessoa responsável por creditar vultosas quantias em dinheiro em espécie na conta do acusado de Sergio Cabral. Ele fez 33 ligações para Carlos Miranda, ex-assessor do ex-governador, entre janeiro e setembro de 2014. Novis teria pago R$ 12,2 milhões, segundo o despacho do juiz Bretas.
*Colaborou Janaina Garcia, em São Paulo