A presidente da República, Dilma Rousseff, recebeu na manhã desta quarta-feira (10), em Brasília, o relatório final da Comissão Nacional da Verdade sobre crimes e violações de direitos humanos que ocorreram no período entre 1946 a 1988, com foco na ditadura militar (1964-1985). A presidente chorou ao se lembrar, em discurso, daqueles que morreram durante a ditadura.
Ao se emocionar, Dilma disse que “o Brasil merecia a verdade, que as novas gerações mereciam a verdade, sobretudo aqueles que perderam familiares, parentes, amigos, companheiros, e que continuam sofrendo “como se eles morressem de novo e sempre a cada dia”. Durante a pausa, Dilma foi aplaudida.
“Nós que acreditamos na verdade esperamos que esse relatório contribua para que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se proteger nas sombras do silêncio e da omissão”, afirmou a presidente, que foi torturada durante o regime militar. Ela já havia se emocionado na cerimônia em que a Comissão da Verdade foi instalada, em 2012.
“Quem dá voz à história são os homens e mulheres livres que não tem medo de escrevê-la”, completou Dilma. “O Brasil certamente saberá reconhecer a importância desse trabalho que torna nossa democracia ainda mais forte.”
Durante a cerimônia, antes do discurso da presidente, alguém da plateia gritou “punição aos assassinos e torturadores desse país”. Não foi possível identificar o autor do grito em meio aos cerca de 100 presentes.
A data escolhida pela comissão é simbólica: nesta quarta, comemora-se o Dia Mundial dos Direitos Humanos. O conteúdo do documento só será divulgado ao público às 11h.
As investigações e pesquisas da CNV duraram dois anos e sete meses. Nesse período, foram ouvidos 1.120 depoimentos. A comissão listou total de 434 vítimas, entre mortos e desaparecidos.
Dilma recebeu o relatório em audiência com os seis membros da CNV: José Carlos Dias, José Paulo Cavalcanti Filho, Maria Rita Kehl, Paulo Sérgio Pinheiro, Pedro Dallari e Rosa Cardoso.
“O trabalho conduzido permitiu à Comissão Nacional da Verdade concluir que as graves violações de direitos humanos ocorridas no período investigado, especialmente nos 21 anos de ditadura instaurada em 1964, foram resultado de uma ação generalizada e sistemática do Estado, configurando crimes contra a humanidade”, disse o coordenador do grupo, Pedro Dallari.
No período da tarde, o grupo participará de cerimônias de entrega aos presidentes do Senado, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal.
O documento completo, dividido em três volumes e 3.380 páginas, descreve todo o trabalho feito pela comissão e apresenta uma série de conclusões e recomendações acerca dos atos de violência cometidos pelo Estado.
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