
A política ludovicense tem dessas ironias: o mesmo homem que acusou promotor de extorsão, desafiou o Ministério Público e transformou a Câmara Municipal num campo de guerra jurídica agora tenta se reinventar como símbolo de diálogo e institucionalidade.
Trata-se de Paulo Victor Melo Duarte, o presidente da Câmara que vive um dos capítulos mais contraditórios da história recente da capital.
Nesta segunda, 3, o vereador surpreendeu ao divulgar uma fotografia ao lado do procurador-geral de Justiça, Daniel de Castro, em visita “institucional”.
O registro, que poderia parecer um simples ato de cortesia, caiu como uma bomba nos bastidores do MPMA e da política. Afinal, não faz muito tempo que o mesmo Paulo Victor era acusado de atacar as estruturas do Ministério Público, questionar investigações e lançar suspeitas sobre membros da instituição.
O estopim da crise foi uma acusação explosiva feita da própria tribuna da Câmara:
Paulo Victor afirmou que o promotor de Justiça da Probidade Administrativa, Zanony Passos, teria tentado extorqui-lo, exigindo quatro nomeações em cargos comissionados em troca de arquivar investigações.
A denúncia foi recebida como um ataque direto ao Ministério Público — e resultou em nota pública oficial do MPMA, que rebateu as acusações e destacou que o vereador teria confessado ter “cedido à pressão” e obtido acesso a decisões judiciais sigilosas que o apontavam como alvo de buscas e apreensões.
Em termos políticos, foi o caos.
Em termos jurídicos, virou munição.
O caso escalou até o Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde o Ministério Público do Maranhão tentou reverter uma decisão da Primeira Câmara Criminal do TJMA que havia suspenso investigações e medidas cautelares contra o vereador.
A tentativa, porém, fracassou.
Nos autos da Suspensão de Liminar e de Sentença nº 3.372/MA, a ministra presidente Maria Thereza de Assis Moura indeferiu o pedido de contracautela, entendendo que não cabe esse tipo de medida em matéria penal, já que não havia risco à ordem pública.
Na prática, o STJ manteve o “escudo judicial” que protege o presidente da Câmara — e congelou investigações que poderiam implodir sua carreira política.
Agora, com o processo trancado e a poeira baixando, Paulo Victor tenta reposicionar sua imagem, adotando tom conciliador e discurso institucional.
Mas, para quem acompanha o xadrez da política maranhense, a jogada é vista como pura encenação de sobrevivência.
Fontes próximas à Procuradoria comentam que o encontro não passou despercebido — e que o MP ainda não engoliu o episódio em que foi acusado de corrupção dentro da própria sede do Legislativo.
A ironia é cruel: o mesmo parlamentar que denunciou “abusos do Ministério Público” agora tenta posar de parceiro republicano da instituição.
Como dizem nos corredores da política, “Paulo Victor é o tipo que acende a vela para o juiz e o charuto para o promotor — desde que isso lhe renda mais um mandato”.
O STJ pode ter lhe dado um respiro jurídico, mas a ferida institucional segue aberta — e cada gesto público parece mais um ensaio de autopreservação do que um ato de grandeza.
Porque, em São Luís, quem vive de holofote sabe: a Justiça pode suspender o processo, mas não apaga o passado…
