
O processo que investiga a morte brutal de Jerder Pereira da Cruz acaba de ganhar um novo capítulo — e, ao que tudo indica, um novo endereço.
Após meses de indefinição e de um emaranhado de decisões burocráticas, o juiz Márcio Aurélio Cutrim Campos, titular da 2ª Central das Garantias e Inquéritos da Ilha de São Luís, decidiu encerrar a competência da Central e remeter o caso à Vara Criminal de Paço do Lumiar, local onde o crime aconteceu.
A decisão, embora técnica, é como um chamado à ação: agora cabe ao juízo de Paço do Lumiar transformar a papelada em justiça — e oferecer respostas definitivas à família e à sociedade, que há quase um ano vivem entre o luto e a omissão institucional.
Um ano de dor, silêncio e burocracia
O caso Jerder completa um ano no próximo 27 de outubro.
Pai de três filhos — um menino autista, um adolescente e uma menina que sequer chegou a conhecer o pai —, Jerder morreu após ser levado com múltiplas lesões ao Hospital Socorrão II, em São Luís, durante um episódio de surto psicótico.
Segundo o inquérito da Delegacia do Maiobão e vídeos que circulam nas redes sociais, Jerder foi agredido antes de chegar ao hospital, configurando lesão corporal seguida de morte.
Mas, enquanto o laudo e o processo dormem nas gavetas da Justiça, os suspeitos circulam livremente pela cidade — como se nada tivesse acontecido.
O inquérito, concluído e relatado há meses, acabou se perdendo entre decisões e redistribuições internas. O que deveria ser investigação virou novela burocrática: ofícios, certidões, trocas de competência e um sistema que parece testar a paciência da família — e a fé do cidadão comum na Justiça.
A decisão do juiz e o papel da Vara de Paço do Lumiar
Na decisão datada de 1º de outubro de 2025, o juiz Márcio Aurélio Cutrim Campos aplicou a Resolução-GP nº 66/2025, que reorganizou as Centrais das Garantias e Inquéritos do Maranhão.
Segundo o magistrado, os novos procedimentos devem ficar nas Centrais apenas se originados dentro da “respectiva base territorial” — ou seja, dentro da área geográfica de atuação de cada vara.
Como o caso Jerder ocorreu em Paço do Lumiar, a competência agora passa para a Vara Criminal daquele município.
Traduzindo o juridiquês: o juiz cumpriu seu papel técnico e passou o bastão para que a Justiça luminense faça o que se espera há um ano — agir.
Agora é com Paço do Lumiar
A Vara Criminal de Paço do Lumiar passa a ter o dever jurídico e moral de dar sequência à apuração e de apontar os responsáveis pela morte de Jerder.
O processo não trata de um número, mas de uma tragédia humana que deixou três crianças órfãs e uma família mergulhada no esquecimento.
Enquanto isso, a sociedade observa, com desconfiança e revolta, mais um caso em que a Justiça parece chegar tarde demais — ou não chegar nunca.
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A hora da resposta
A decisão de Márcio Aurélio recoloca o caso no caminho certo, mas a lentidão do sistema segue afrontando o princípio da duração razoável do processo, previsto no art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal.
A cada dia que passa, a impunidade ganha terreno, e o Estado, que deveria proteger e punir, se torna cúmplice pelo silêncio.
Agora, a pergunta que não quer calar em Paço do Lumiar é direta e incômoda:
a Vara Criminal terá coragem e celeridade para fazer justiça por Jerder Pereira da Cruz — ou o caso será mais um arquivo empoeirado no corredor da impunidade?
