Uma ação de investigação judicial eleitoral (AIJE) protocolada na 16ª Zona Eleitoral de Itapecuru-Mirim promete abalar os alicerces da política. A peça, de autoria do candidato a prefeito derrotado em 2024, Benedito de Jesus Nascimento Neto — o Coroba, ex-promotor de Justiça — aponta que o prefeito eleito Filipe Marreca (PRD/25) teria construído sua vitória a partir de um “suposto” sofisticado esquema de abuso de poder político e econômico, além da prática de captação ilícita de sufrágio — a famosa “compra de votos”.
Água e votos: poços artesianos como moeda eleitoral
Segundo a denúncia, em povoados como Entroncamento, Saco Dantas e Monte Alegre 2, a campanha de Marreca teria explorado a vulnerabilidade social da população. Poços artesianos, bombas e caixas d’água teriam sido distribuídos em plena corrida eleitoral, gerando um rastro de áudios e mensagens em grupos de WhatsApp em que moradores vinculam diretamente o benefício ao candidato. Em alguns casos, segundo os autos, a conclusão de obras foi condicionada à vitória do então postulante.
Asfalto, tijolos e areia: infraestrutura em troca de apoio
No Entroncamento, vídeos anexados à ação mostram ruas pavimentadas com recursos de emendas parlamentares do deputado federal Júnior Marreca Filho, irmão do prefeito eleito. Em outra comunidade, o Condomínio Milton Amorim, testemunhas relataram a entrega em massa de “kits” de tijolos e areia na véspera da eleição — material de construção que, segundo a acusação, funcionava como contrapartida pelo apoio nas urnas. Casas que recebiam os materiais, curiosamente, ostentavam bandeiras e cartazes do número 25.
Entregas estratégicas às vésperas da eleição
No povoado Picos 2, um trator teria sido disponibilizado três dias antes do pleito, levantando suspeitas sobre o uso eleitoral do equipamento. Já na Comunidade 2000 (Quilombo 2000), a perfuração de um poço foi concluída no sábado imediatamente anterior à votação, em clara tentativa — segundo os patronos de Coroba — de influenciar a escolha dos eleitores no momento decisivo.
O peso da família Marreca
A ação também denuncia a atuação coordenada do deputado federal Júnior Marreca Filho e do patriarca da família, Antônio da Cruz Filgueira Júnior (Júnior Marreca), atual Secretário de Indústria e Comércio do Maranhão. Obras públicas financiadas por emendas parlamentares e parcerias com o governo estadual teriam sido apropriadas pela família como propaganda eleitoral. Placas com o sobrenome “Marreca” espalhadas pelo município reforçariam a associação das benfeitorias ao grupo político.
Coroba e o discurso do retorno
Enquanto a ação corre na Justiça Eleitoral, Benedito Neto, o Coroba, anda “arrotando” em Itapecuru-Mirim que a denúncia deve vingar e que ele voltará a ocupar a cadeira de prefeito. O discurso, repetido em rodas políticas e entre simpatizantes mais fiéis, tem servido para inflar expectativas de apaixonados pelo ex-gestor. Contudo, ainda que Coroba entenda de leis, sua passagem pela prefeitura deixou evidente que de gestão pública pouco demonstrou traquejo, alimentando mais ilusões do que a realidade permite.
O próximo capítulo
O processo, que inclui testemunhos, vídeos, áudios e provas documentais, aguarda instrução na Justiça Eleitoral. Caso a denúncia seja julgada procedente, Itapecuru-Mirim poderá viver um dos maiores terremotos políticos de sua história recente, com a eventual cassação de mandato de um prefeito recém-eleito de forma legitima pelo povo. Até lá, o embate segue dividindo a cidade entre os que acreditam no “retorno” de Coroba e os que enxergam na família Marreca o grupo que, por ora, domina a cena política do “Caminho de Pedra Miúda”.

