Em pleno século XXI, a brutalidade venceu a razão mais uma vez nas ruas de São Luís. Um homem identificado como Afrânio Vitor Trindade Serra foi espancado até a morte por um grupo de pessoas após um acidente de trânsito no bairro do Anil. A cena, digna de um pesadelo medieval, nos faz nos indagar inquietos: quem são os verdadeiros bárbaros dessa história?
Segundo relatos, Afrânio se envolveu em uma série de colisões após dirigir em alta velocidade, culminando em um acidente que feriu um morador. Em vez de aguardar socorro ou prestar esclarecimentos, tentou fugir e acabou interceptado por populares. Mas o que se seguiu não foi contenção nem espera por autoridades (?), foi execução pública. Foi linchamento. Foi tortura. Foi morte.
Há versões, há laudos, há suposições sobre o comportamento de Afrânio. Mas nada, absolutamente nada, justifica que seres humanos se transformem em juízes, jurados e carrascos em plena via pública. Onde estavam a polícia (?), o Estado, a civilidade? Estavam ausentes, como tantas vezes estão…
Afrânio morreu com o crânio esmagado por capacetes, com sinais de violência extrema e abandono moral. Morreu sem chance de defesa. E mais do que isso: morreu sem ver o rosto de sua filho recém-nascido, que tem apenas 6 dias de vida. Uma criança que crescerá sem pai, privada de qualquer memória afetiva, privada de amor, privada de justiça.
E agora, onde estão os agressores? Estão escondidos, protegidos por um manto de cumplicidade social e silêncio conveniente. O que se sabe é que a Polícia Civil do Maranhão abriu investigação, promete apurar o caso e que câmeras estão sendo analisadas. Mas até aqui, o único fato concreto é que Afrânio está morto. Espancado até a morte. E sua filho está órfão.
Este caso levanta uma questão que não pode mais ser ignorada: estamos vivendo sob o império da barbárie travestida de justiça popular? Desde quando matar é forma legítima de punir? Ou será que essa “justiça das ruas” só aparece quando convém, seletiva, cega, suja?
Enquanto os bárbaros não são identificados, punidos e expostos, esta história seguirá como uma ferida aberta na consciência coletiva. E o filho de Afrânio crescerá com a dúvida cruel: o que fizeram com meu pai? E por quê?
A sociedade maranhense precisa responder, com urgência quem, afinal, está sendo protegido: os agressores ou a verdade???