
Enquanto se exibe como poeta nas redes sociais e ostenta vigor em pedaladas e sessões de surf amador, o presidente da Câmara Municipal de São Luís, Paulo Victor Melo Duarte, mergulha em uma das mais graves crises políticas e jurídicas de sua carreira. Longe das câmeras e da estética cuidadosamente construída para o Instagram, Paulo Victor enfrenta acusações gravíssimas que o colocam na mira do Ministério Público e ameaçam a estabilidade financeira do regime previdenciário dos servidores da Casa.
Segundo Ação Civil Pública ajuizada pelo promotor Nacor Paulo Pereira dos Santos, o vereador vem descumprindo de forma reiterada obrigações legais e previdenciárias desde 2020. O principal alvo da denúncia é o não repasse das contribuições ao Instituto de Previdência do Município (IPAM), gerando um rombo que ultrapassa R$ 7,9 milhões. E esse número ainda pode ser bem maior, caso se considerem os parcelamentos descumpridos e a ausência proposital de dados sobre a folha de pagamento — expediente que dificulta a fiscalização e afronta diretamente o Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o IPAM desde 2018.
A situação, classificada como “alarmante” pelo MP, vai além da inadimplência: há indícios claros de apropriação indevida de valores descontados dos contracheques dos servidores e nunca repassados ao instituto. A irresponsabilidade de Paulo Victor é tamanha que levou o próprio IPAM a rejeitar qualquer tentativa de renegociação, diante do desrespeito reiterado aos compromissos e à legalidade administrativa.
Enquanto a Vara da Fazenda Pública de São Luís decide o destino do “gestor-poeta”, a máscara da leveza digital começa a ruir. Os versos ensaiados e as imagens sorridentes contrastam com uma realidade de descontrole institucional, suspeitas de crime contra o erário e flagrante descompromisso com o funcionalismo público. Nos corredores da política, o que se comenta é que Paulo Victor virou um símbolo de dissimulação: um presidente que tenta esconder a falência administrativa com rimas e pedaladas.
A Câmara, hoje, vive um colapso silencioso. E o “poeta do Instagram” se torna personagem central de uma farsa que pode lhe custar o cargo e a carreira. A pergunta que ecoa nas rodas políticas e na opinião pública é direta e inevitável: até quando a Justiça permitirá que o verniz poético encubra a face sombria de uma gestão desastrosa?
O tempo, implacável, já começou a cobrar respostas.