
Não escrevo por vaidade, até porque esta já foi plenamente satisfeita em shows superfaturados e contas movimentadas com zelo quase poético. Escrevo por tédio, como Brás Cubas, aquele defunto autor que nada deixou de útil à humanidade, assim como Calvet Filho, que deixou a prefeitura de Rosário com um legado digno de figurar entre os clássicos do escárnio rosariense…
Sim, tudo indica que foi um “Brás Cubas do Maranhão”. Um visionário. Um artista da gestão pública, criador de fantasias orçamentárias e eventos que seriam a inveja de um baile imperial. Tal qual Brás, começou a vida pública embalado por sonhos e elogios, como se a cadeira de prefeito fosse uma extensão do Olimpo, quando, na verdade, era mais parecida com um camarim mal iluminado de vaudeville.
🪦 Capítulo I: O Delírio dos Depósitos
Brás Cubas tinha o delírio da invenção do emplasto anti-morte. Calvet Filho teve o delírio da conta bancária eterna. Mais de R$ 3,3 milhões circularam entre o dito cujo, a esposa e o irmão — num balé financeiro tão coreografado que faria o próprio Machado levantar da tumba para aplaudir.
A oficial, Estela, que não cantava nem dançava nos eventos pagos pela prefeitura, movimentou R$ 751 mil sem precisar subir ao palco. O irmão-sócio Jonatha foi além: R$ 1 milhão em notas que mais pareciam pílulas de fé, fé na impunidade. Um verdadeiro emplasto de cifras, aplicado diretamente na ferida aberta da ética.
💰 Capítulo II: O Auxílio que Caiu do Céu
Brás Cubas viveu sem precisar trabalhar e nosso “defunto” tentou o mesmo. Enquanto prefeito, recebeu auxílio emergencial destinado a cidadãos em extrema pobreza. Mas não o julguem! Não era ambição, era antropologia: queria saber como vive o povo. A diferença é que, enquanto Brás descrevia o sofrimento alheio com ironia, o dito cujo vivia, por alguns boletos.
🎪 Capítulo III: O Teatro Municipal da Enganação
Brás Cubas sonhava em curar a humanidade; o nosso “Brás do Munim” sonhou em curá-la com forró. Contratou “Se não valorizar, com certeza ‘cê’ vai me perder…”por R$ 150 mil e fez de Rosário um festival itinerante de gastos públicos. Os palcos não faltaram. Faltou, talvez, a plateia… ou melhor, a prestação de contas. O Tribunal de Contas que o diga e diga em voz alta.
🕯️ Capítulo IV: A Filosofia do Ridículo
Brás morreu solteiro e sem herdeiros. O nosso deixou como herança a confusão fiscal e as manchetes. Foi processado por improbidade administrativa, acusado de movimentações suspeitas e favorecimento pessoal. Mas como o próprio Brás, não sofreu de remorso: sofreu de falta de compreensão por parte dos mortais. Os atos [dele] foram, digamos, filosóficos: elevavam a corrupção à categoria de arte conceitual.
🔥 Capítulo V: A Conversão Dramática
E como se não bastasse, no último ato do melodrama, protagonizou um monólogo religioso e intolerante, acusando o novo prefeito de “consagrar Rosário a Satanás”. Brás Cubas usava a ironia para zombar da existência; o ‘Brás Falso Profeta’ usou o púlpito da política para zombar da diversidade religiosa. O que faltou em decoro, sobrou em performance.
Epílogo: O Defunto Prefeito
Aqui jaz Calvet Filho, ex-prefeito, ex-gestor, ex-ídolo, talvez futuro youtuber de política pública. Não fundou partido, não deixou obras perenes, mas deixou uma história digna de figurar ao lado de Brás Cubas, outro homem que olhou para o mundo de cima… do caixão.
Ambos escreveram suas memórias depois da morte: ele, literal; o outro, política. E se Brás disse que “não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”, o dito cujo pode dizer, com algum orgulho: transmiti sim e a cidade inteira “sentiu o peso”…