O que era para ser um processo célere e exemplar está se transformando em mais um caso emblemático da morosidade que assola o sistema de justiça criminal no Maranhão. Seis meses após a morte brutal de Jerder Cruz, o inquérito que investiga o crime segue sem conclusão. E agora, por decisão do Ministério Público Estadual, foi prorrogado por mais 90 dias.
O pedido de prorrogação, assinado pela promotora Marinete Ferreira Silva Avelar, da 5ª Promotoria de Justiça de Investigação Criminal, alega que ainda existem “diligências imprescindíveis” a serem cumpridas. A manifestação, baseada no artigo 10, §3º do Código de Processo Penal e no Provimento nº 50/2019 da Corregedoria Geral de Justiça do Maranhão, determina a devolução dos autos à polícia judiciária e adia novamente a conclusão do caso.
O crime
Na madrugada de 28 de outubro de 2024, Jerder Cruz — homem negro, pai de três filhos, esposo e trabalhador — foi espancado até a morte após apresentar sinais de surto psicótico e entrar em uma igreja no bairro Novo Horizonte, em Paço do Lumiar. Em evidente estado de confusão mental, ele quebrou uma porta do templo. Em vez de receber atendimento médico ou auxílio policial, foi agredido violentamente por populares.
Mesmo socorrido ao hospital, não resistiu aos ferimentos. Na data de ontem, Jerder teria completado 36 anos. Sua família, no entanto, celebrou mais um dia sem respostas — e com a angústia da justiça que nunca chega.
Polícia Militar é acusada de omissão
O caso ganha contornos ainda mais graves diante da acusação feita pela esposa da vítima, que estava grávida de cinco meses na época. Segundo ela, a Polícia Militar foi acionada durante o espancamento e se recusou a intervir. A denúncia foi formalizada e a conduta dos agentes pode configurar omissão de socorro e conivência com o homicídio.
Até o momento, nenhum agressor foi formalmente indiciado e nenhum agente público foi responsabilizado. A Delegada Maria Eunice, da Delegacia do Maiobão, informou que o caso segue em investigação. Mas o cenário atual — sem conclusão do inquérito, sem relatório, sem prisões — intensifica a sensação de impunidade.
“Justiça negada”
A promotoria, ao pedir nova prorrogação, exigiu que eventuais futuros pedidos venham acompanhados de descrição detalhada das diligências pendentes — uma medida que, na prática, tenta conter o descontrole no ritmo das investigações. A iniciativa, no entanto, é vista por juristas como um sinal claro de desorganização e descompromisso institucional.
Organizações de direitos humanos, movimentos sociais e a própria família da vítima questionam a lentidão da resposta estatal. “Jerder foi morto duas vezes: uma pela violência das ruas e outra pela indiferença das instituições”, disse um familiar.
O clamor da sociedade
A morte de Jerder Cruz não é um caso isolado, mas mais um retrato do colapso de um sistema que falha em proteger os mais vulneráveis — e em punir os verdadeiros culpados. A sociedade exige respostas. A família exige justiça. E o tempo — inimigo das vítimas e aliado da impunidade — segue passando.
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