Este repórter tem acompanhado com enorme interesse o desenrolar da venda dos imóveis de propriedade do Conselho Regional de Contabilidade do Maranhão. Para quem não está atualizado com o assunto, aqui vai um breve resumo. Há muitos anos os dirigentes do CRCMA alimentaram o sonho de ter uma sede própria mais moderna. Alguns dirigentes, com o ego nas alturas e o pensamento mesquinho, compraram e venderam imóveis, optando, por fim, pela construção da atual sede. Imóvel imponente, porém, mal localizado, foi financiado raspando o saldo de caixa do CRCMA e ainda contraindo uma dívida impagável no CFC que beira os seis milhões de reais.
Desde a sua inauguração, o prédio apresentou inúmeros defeitos de construção, destacando-se as cerâmicas mal assentados do revestimento, goteiras incorrigíveis, inundação de parte do prédio na época das chuvas (principalmente o fosso do elevador). Alguns itens dados como realizados na construção da obra nunca foram encontrados, redundando em auditoria interna que acabou passando o pano na responsabilidade dos gestores da obra.
Para completar, o prédio impõe despesas impagáveis para o combalido orçamento do CRCMA, entre as quais os gastos com energia elétrica, vigilância armada, manutenção e as parcelas de amortização do empréstimo como o CFC. A gravidade da situação e o risco de inadimplência despertou o interesse em livrar-se do “elefante branco” e, de quebra, do antigo prédio no Centro Histórico próximo à REFSA e de uma sala em Imperatriz. Esses dois últimos imóveis perderam o sentido de ser mantidos no acervo do Conselho porque nada geram de benefício econômico e acabam contribuindo para onerar ainda mais o orçamento.
Em conjunto com o Conselho Federal de Contabilidade, foram desenvolvidos estudos para alienar os imóveis. Todas as análises indicaram ser muito mais viável ocupar espaço em um shopping center, reduzindo os gastos já mencionados e usando o produto da venda para quitar a dívida no CFC e, quem sabe, até mesmo sobrar algum trocado para investir em móveis e equipamentos para dar melhor atendimento aos contadores. Tudo isso sem falar na comodidade de acesso, estacionamento, menor risco para os funcionários e visitantes e o conforto.
Entretanto, na 952ª plenária do Conselho de Contabilidade do Maranhão, a diretoria soltou o verbo contra o Conselheiro Federal e ex-presidente Heraldo Campelo, por conta da sua tentativa de obstruir no CFC a aprovação do processo de venda. A Presidente Ana Lígia e os conselheiros, em uníssona voz, protestaram contra o ato do Conselheiro Federal, cuja única motivação, ao que parece, é a vaidade.
As palavras proferidas na plenária foram ácidas e cirúrgicas. O episódio foi tratado como um “disse-me-disse disseminado por vozes do atraso do CRCMA, que estão com abstinência de poder”. Não foi deixado de lado a percepção de que se estava querendo restaurar um “passado não muito distante onde a ordem era sangrar os cofres do CRCMA”, quando, agora, “o Conselho vive um novo momento, com gente compromissada com a Classe na direção”. O tom subiu de vez quando foi dito, no calor do momento, que “atualmente o Conselho não serve mais a passeios turísticos com direito a sunguinha ou usar a máquina contábil pra galgar cargos de Vogais em Juntas. Não! A Ordem é conter gastos e deixar o caixa saudável, seguindo o plano de sustentabilidade adotado pelo Conselho Federal de Contabilidade, o CFC”.
A oportunidade pareceu favorável para a lavagem de roupa suja em plenária. Um conselheiro lamentou o “total desconhecimento de alguns ‘contadores’ que tentam criar a fake news de que as vendas seriam para cobrir dívidas. Nada a ver com o presente caso, que tira a ‘Casa dos Contadores’ de mais 25 anos de atraso e sem avanços, totalmente deficitários”. E o barraco de armou de vez quando um conselheiro fez questão de frisar que “a nova direção encontrou só o tacho do bolo, tendo que recorrer ao CFC para suplementar a folha de pagamento, dado ao colapso em que foram encontradas as contas”. E não aliviou, enfatizando que “todas as decisões que tomamos aqui são consultadas pelo Conselho Federal antes. Nada está sendo feito sem o conhecimento do Conselho Federal. Mau-caratismo de quem tenta iludir que está se dilapidando patrimônio”, navalhou.
A verdade é que os imóveis do CRCMA realmente não se prestam econômica e financeiramente aos fins para os quais foram planejados. São extremamente onerosos e o Conselho não têm como manter o atual patamar de gastos. A alienação desses bens parece ser a melhor solução e isso deverá acontecer na próxima plenária do CFC, quando o pedido de vistas do processo formulado pelo Conselheiro Federal Heraldo Campelo se encerra e o processo deverá ser devolvido para deliberação. Caso ele não apresente fato novo que mude o entendimento do parecer técnico, a aprovação deverá acontecer e, na sequência, os bens serão leiloados.
Estaremos atentos aos próximos rounds e, de já, deixamos esta coluna à disposição de quem queira apresentar sua versão dos fatos…