
Durante um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), o então ministro Marco Aurélio Mello, em tom reflexivo, utilizou uma metáfora que chamou atenção:
“Há três coisas que não podemos afirmar peremptoriamente: pata de cavalo, barriga de mulher e cabeça de juiz. Barriga de mulher podemos saber o sexo da criança hoje em dia com a ultrassonografia. Mas continuamos sem saber o que poderá ocorrer se passarmos atrás de um cavalo ou então se nos submetermos à jurisdição.”
A fala foi proferida durante o julgamento de embargos infringentes no processo do mensalão, evidenciando a complexidade e a imprevisibilidade das decisões judiciais.
Em contexto semelhante, o Procurador-Geral de Justiça do Maranhão, Danilo José de Castro Ferreira, afirmou:
“Cabeça de juiz, dianteira de padre e traseira de burro não são confiáveis.”
A declaração foi feita durante a 1ª Sessão Extraordinária do Colégio de Procuradores de Justiça, reforçando a ideia de que os resultados de julgamentos muitas vezes desafiam as expectativas.
Ambas as falas suscitam discussões sobre a insegurança jurídica e a subjetividade das interpretações no Direito. O texto do Procurador-Geral faz referência à proposta do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre o uso de linguagem simples e acessível pelo Judiciário, algo que Danilo José de Castro, segundo seus pares, adota frequentemente em sua comunicação.
Especialistas ressaltam que tais expressões, ainda que coloquiais, carregam uma reflexão profunda: o Direito, assim como fenômenos sociais, é multifacetado e passível de interpretações diversas, variando conforme o ponto de vista do observador. Essa característica reforça a complexidade do sistema jurídico, onde a previsibilidade nem sempre é possível.
O debate gerado pelas falas também aponta para outra realidade: o aumento das polêmicas geradas por declarações públicas. Em um contexto de hiperexposição e constantes problematizações, até mesmo metáforas são alvo de críticas e interpretações divergentes. A questão que fica é: trata-se de uma busca por maior clareza no Judiciário ou de uma sociedade mais inclinada a polemizar discursos?
A reflexão sobre a comunicação no meio jurídico permanece. Afinal, como conciliar clareza e profundidade em temas tão complexos?