Política

Flávio Dino e a esquerda de punhos fechados, mas com as mãos nos bolsos

24 de julho de 2020

Flávio Dino e o PCdoB são importantes na esquerda brasileira, e suas opiniões merecem ser consideradas, seriamente, e com muito respeito. O artigo de Flávio Dino em que invoca Mandela para defender que a esquerda deve se integrar em uma Frente amplíssima para 2022 merece uma reflexão sobre a estratégia para derrotar Bolsonaro:

“As disputas entre os progressistas giram mais sobre fatos pretéritos do que sobre propostas para o futuro. Portanto, é preciso priorizar mais o futuro dos cidadãos do que o “julgamento” de erros do passado. Necessitamos de uma ampla união progressista que livre o Brasil do bolsonarismo. Lulistas, trabalhistas, socialistas, comunistas, verdes, social-democratas, todos têm um grande papel”.[1]

Evidentemente, o contexto político-histórico é muito diferente. Mandela saiu da prisão em 1990, quando a situação na África do Sul era pré-revolucionária, e o país era, ao lado do Brasil, um dos campeões mundiais em número de greve. Foi eleito pelo CNA (Congresso Nacional Africano), em 1993, uma organização legal sem qualquer presença de representação política de frações da burguesia branca, e que tinha no seu interior um dos partidos comunistas mais poderosos do mundo. Mas é verdade que venceu após a negociação de uma transição pactuada do regime do apartheid, que oferecia garantias à classe dominante, como o controle do mandato do Banco Central.

O centro do argumento de Flávio Dino é que uma candidatura que seja a expressão somente de uma frente de esquerda não poderá impedir Bolsonaro de conquistar um segundo mandato.

Nas suas palavras:

“Se ficarmos presos à configuração política que levou ao desfecho das eleições de 2018, provavelmente ele se repetirá. É hora de olhar para o futuro”.

Em uma palavra, a defesa de uma tática Kirchner, mas ainda mais assertiva. A primeira observação que se impõe, e que é do tamanho do Pão de Açúcar, é que é impossível hoje elaborar hipóteses sobre qual será o cenário do Brasil para o próximo ano, o que dizer de qual será a relação política de forças em um segundo turno de 2022. Simplesmente, não é possível.  A segunda é que não há razões, em função da conjuntura aberta desde março, e a simultaneidade de uma calamidade humanitária e uma crise econômica catastrófica, para excluir a possibilidade de derrotar Bolsonaro antes das eleições de 2022. A terceira é que em um artigo que reduz a discussão da estratégia contra Bolsonaro ao debate da melhor tática eleitoral para 2022, Lula não é citado.

Acontece que a luta pelos direitos democráticos de Lula ainda não acabou. Pode-se avaliar como incerto, difícil, e até improvável, mas uma luta só termina quando acaba. Não é preciso ser lulista ou petista para concluir que a disputa está em curso.

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