Eike é acusado de envolvimento em corrupção do ex-governador Sérgio Cabral. Ele segue fora do Brasil
Alvo de um mandado de prisão preventiva e investigado pela Operação Lava Jato por suspeita de crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro, o empresário Eike Batista segue fora do Brasil, para onde viajou há dois dias, em voo da American Airlines com destino a Nova York. De acordo com as investigações da força-tarefa no Rio de Janeiro, o ex-magnata está envolvido no esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral, preso desde novembro, na fase anterior da Lava Jato, a Calicute. A Interpol já tem um mandado de captura internacional contra o empresário, procurado desde a manhã desta quinta-feira (26) pela Polícia Federal, na Operação Eficiência. Outros cinco investigados, suspeitos de envolvimento no esquema, também tiveram pedido de prisão decretado, e mais três, entre eles Cabral, encontram-se detidos.
O advogado de Eike que cuida desse caso, Fernando Martins, afirmou que negocia com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal o retorno do empresário de Nova York. Ainda não há, segundo ele, data para essa volta. Martins disse que a viagem é de negócios mas não deu detalhes. Perguntado se havia pedido habeas corpus em favor do empresário, disse apenas que “a defesa estuda o caso para avaliar quais providências tomar”.
A mulher de Eike, a empresária Flávia Sampaio, viajou com o filho Balder, de 3 anos, ontem (25), de acordo com informações do coordenador da defesa de Eike, Sérgio Bermudes.
O pedido de prisão preventiva de Eike foi decretado porque o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, acolheu a argumentação do Ministério Público Federal de que o empresário havia mentido em depoimento. O empresário fora convocado a depor, pela Procuradoria da República no Rio, para explicar um pagamento de R$ 1 milhão ao escritório de advocacia de Adriana Anselmo, mulher de Cabral. Eike alegou que fez o pagamento por orientação da Caixa Econômica Federal, enquanto negociava, com um banco, a criação de um fundo de investimento em empresas de infraestrutura. Segundo ele, o pagamento fazia parte das negociações para a criação do fundo. Para corroborar sua versão, apresentou a minuta de um contrato para a constituição do fundo. O banco estatal, porém, negou que a criação do fundo tivesse ido adiante e que fazia indicação de qualquer escritório externo para recebimento de recursos.
Além do repasse ao escritório de Adriana, Eike estava na mira dos investigadores no Rio porque dois novos delatores, os doleiros Marcelo e Renato Chebar, relataram ter atuado para tornar viável a transferência de US$ 18 milhões a serem pagos por Eike Batista a Cabral.
De acordo com as investigações, a operação, com participação de Flávio Godinho, ex-braço direito de Eike, seria mascarada pela elaboração de um contrato de intermediação de compra de uma mina de ouro entre uma empresa de Eike e uma outra empresa, a Arcádia, que tinha como sócio o colaborador Renato. O contrato, segundo os procuradores, é fictício.
Uma busca realizada na casa de Eike em 2015 resultou na apreensão de um extrato de uma conta da empresa Arcádia, com a indicação do nome de Renato, manuscrito, no documento, o que, na época, de acordo com os delatores, levou-os, por orientação de Cabral, a combinar uma versão sobre o contrato com os advogados.
Os investigadores da Lava Jato informaram já ter repatriado US$ 100 milhões de contas no exterior que teriam Cabral como beneficiário. Os próprios delatores foram quem fizeram a transferência. De acordo com a Polícia Federal, a demora entre a decretação da prisão dos nove investigados, no dia 13 de janeiro, e a realização da Operação Eficiência se deu porque se esperava que todos os valores fossem repatriados. Segundo um dos integrantes da força-tarefa, havia medo de que as instituições financeiras das Ilhas Cayman bloqueassem a transferência do dinheiro, caso a operação fosse deflagrada antes. Esse paraíso fiscal concentrava 80% dos recursos.
Além do dinheiro, os investigadores também esperam que, em alguns dias, sejam repatriados ouro e diamante.
A dupla de doleiros afirma que trabalha com Cabral desde 2002, quando foi procurada pelo então senador para assumir a gestão de uma conta que ele tinha, no valor de US$ 2 milhões, no Irish Discount Bank of New York. Cabral havia se assustado com o propinoduto, até então uma das maiores investigações sobre corrupção no país. Na época, apurou-se que um esquema envolvendo auditores federais e fiscais de renda do Rio de Janeiro havia destinado US$ 33 milhões para contas na Suíça.