Política

Entenda o pedido de prisão de Eike Batista

26 de janeiro de 2017

Eike é acusado de envolvimento em corrupção do ex-governador Sérgio Cabral. Ele segue fora do Brasil

REDAÇÃO ÉPOCA

Alvo de um mandado de prisão preventiva e investigado pela Operação Lava Jato por suspeita de crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro, o empresário Eike Batista segue fora do Brasil, para onde viajou há dois dias, em voo da American Airlines com destino a Nova York. De acordo com as investigações da força-tarefa no Rio de Janeiro, o ex-magnata está envolvido no esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral, preso desde novembro, na fase anterior da Lava Jato, a Calicute. A Interpol já tem um mandado de captura internacional contra o empresário, procurado desde a manhã desta quinta-feira (26) pela Polícia Federal, na Operação Eficiência. Outros cinco investigados, suspeitos de envolvimento no esquema, também tiveram pedido de prisão decretado, e mais três, entre eles Cabral, encontram-se detidos.

O advogado de Eike que cuida desse caso, Fernando Martins, afirmou que negocia com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal o retorno do empresário de Nova York. Ainda não há, segundo ele, data para essa volta. Martins disse que a viagem é de negócios mas não deu detalhes. Perguntado se havia pedido habeas corpus em favor do empresário, disse apenas que “a defesa estuda o caso para avaliar quais providências tomar”.

A mulher de Eike, a empresária Flávia Sampaio, viajou com o filho Balder, de 3 anos, ontem (25), de acordo com informações do coordenador da  defesa de Eike, Sérgio Bermudes.

O pedido de prisão preventiva de Eike foi decretado porque o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, acolheu a argumentação do Ministério Público Federal de que o empresário havia mentido em depoimento. O empresário fora convocado a depor, pela Procuradoria da República no Rio, para explicar um pagamento de R$ 1 milhão ao escritório de advocacia de Adriana Anselmo, mulher de Cabral. Eike alegou que fez o pagamento por orientação da Caixa Econômica Federal, enquanto negociava, com um banco, a criação de um fundo de investimento em empresas de infraestrutura. Segundo ele, o pagamento fazia parte das negociações para a criação do fundo. Para corroborar sua versão, apresentou a minuta de um contrato para a constituição do fundo. O banco estatal, porém, negou que a criação do fundo tivesse ido adiante e que fazia indicação de qualquer escritório externo para recebimento de recursos.

Eike Batista e Sérgio Cabral  (Foto: Agência O Globo )

Além do repasse ao escritório de Adriana, Eike estava na mira dos investigadores no Rio porque dois novos delatores, os doleiros Marcelo e Renato Chebar, relataram ter atuado para tornar viável a transferência de US$ 18 milhões a serem pagos por Eike Batista a Cabral.

De acordo com as investigações, a operação, com participação de Flávio Godinho, ex-braço direito de Eike, seria mascarada pela elaboração de um contrato de intermediação de compra de uma mina de ouro entre uma empresa de Eike e uma outra empresa, a Arcádia, que tinha como sócio o colaborador Renato. O contrato, segundo os procuradores, é fictício.

Uma busca realizada na casa de Eike em 2015 resultou na apreensão de um extrato de uma conta da empresa Arcádia, com a indicação do nome de Renato, manuscrito, no documento, o que, na época, de acordo com os delatores, levou-os, por orientação de Cabral, a combinar uma versão sobre o contrato com os advogados.

 

Os investigadores da Lava Jato informaram já ter repatriado US$ 100 milhões de contas no exterior que teriam Cabral como beneficiário. Os próprios delatores foram quem fizeram a transferência. De acordo com a Polícia Federal, a demora entre a decretação da prisão dos nove investigados, no dia 13 de janeiro, e a realização da Operação Eficiência se deu porque se esperava que todos os valores fossem repatriados. Segundo um dos integrantes da força-tarefa, havia medo de que as instituições financeiras das Ilhas Cayman bloqueassem a transferência do dinheiro, caso a operação fosse deflagrada antes. Esse paraíso fiscal concentrava 80% dos recursos.

Além do dinheiro, os investigadores também esperam que, em alguns dias, sejam repatriados ouro e diamante.

A dupla de doleiros afirma que trabalha com Cabral desde 2002, quando foi procurada pelo então senador para assumir a gestão de uma conta que ele tinha, no valor de US$ 2 milhões, no Irish Discount Bank of New York. Cabral havia se assustado com o propinoduto, até então uma das maiores investigações sobre corrupção no país. Na época, apurou-se que um esquema envolvendo auditores federais e fiscais de renda do Rio de Janeiro havia destinado US$ 33 milhões para contas na Suíça.

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